O projeto da engorda de Ponta Negra é um daqueles símbolos do mal que pode causar a disputa política levada a extremos.
A engorda é uma obra que tem o objetivo de proteger a principal praia de Natal, evitando que sua orla seja definitivamente arrastada e seu calçadão destruído pelo avanço do mar e que o Morro do Careca, um dos principais cartões postais do Rio Grande do Norte, venha a desaparecer, corroído pela erosão que já compromete sua base.
Um projeto, portanto, que deveria unir a todas as correntes: populares, empresariais e também políticas. Era de se esperar que uma ação tão relevante, até para o futuro de Ponta Negra, unisse a todos para que ela fosse realizada. Mas no Rio Grande do Norte é diferente.
A engorda tem simbolizado o que de mais nocivo a política pode produzir para a população cujos interesses deveria defender. A Prefeitura de Natal acusa o Governo do Estado de não ter a menor vontade política em deixar a obra ser realizada. O prefeito Álvaro Dias (Republicanos) é adversário da governadora Fátima Bezerra (PT).
Representado pelo Idema, o Instituto estadual de meio-ambiente, ao qual cabe liberar a licença para a execução do projeto, o Governo sustenta que está agindo conforme a legislação ambiental e respeitando os trâmites exigidos em um processo desse tipo. A governadora, por seu lado, até agora não deu uma única palavra pública sobre o assunto.
Há que se destacar que a engorda vem sendo apresentada, em todos os seus detalhes técnicos, faz muito tempo. Nos últimos anos, a Prefeitura respondeu a dezenas de questionamentos do Idema sobre o projeto. Algo em torno de 50 perguntas foram formuladas pelo Idema e respondidas pelo Município, que contratou ao custo de R$ 5 milhões uma equipe da Funpec, fundação composta por técnicos da UFRN ligados à área, para ajudar no relatório requisitado pelo órgão estadual.
A licença prévia até chegou a ser concedida pelo Idema, no fim do ano passado, e, mais recentemente, a Prefeitura contratou a empresa DTA Engenharia para executar a obra. Porém, a empresa, que chegou a trazer o navio-draga e a deixá-lo por duas semanas atracado em Natal, até que ontem, sem ter nenhuma previsão sobre o início da obra, resolveu remover sua embarcação para outra cidade.
A imagem do navio deixando o porto de Natal, na manhã deste domingo (7), carregava um quê de melancolia, como que levando para longe a solução de que Ponta Negra e deixando a praia entregue à própria sorte — e na dependência da boa vontade da nossa classe política.
O assunto, desde ontem, repercute bastante e está motivando a realização de uma manifestação organizada por entidades empresariais e públicas, na sede do Idema.
Os natalenses têm todo o direito de cobrar um desfecho para a engorda. E o melhor desfecho, que é a realização da obra.
A população não pode ficar calada, assistindo de braços cruzados, diante de divergências que não estão diretamente relacionadas ao projeto.
Estão em jogo o Turismo e tudo o que setor envolve: muita renda e muito emprego para as pessoas. O segmento responde por mais de 60% da nossa movimentação econômica.
Quanto aos gestores públicos, é bom que tenham ciência de que terão um preço a pagar com a cidade, caso sua atuação não esteja ajudando ou, pior, esteja atrapalhando um projeto voltado para salvar Ponta Negra. A conta vai chegar.