Shusaku Endo, escritor japonês, apesar de pouco conhecido no ocidente, é um dos mais célebres romancistas do Século XX, tendo deixado um legado de obras que falavam de fé e de religiosidade.
Convertido ao Catolicismo aos 11 anos, Endo sofreu severa discriminação no Japão e, por diversas vezes, teve sua voz calada e sua fé testada, inspirando-o a escrever, em 1966, o romance “Silence”, que se transformou no filme homônimo de Martin Scorsese, lançado em 2017.
O Silêncio, de Shusaku Endo, descortinou um Japão do Século XVII, que havia banido o catolicismo e, mesmo diante do perigo, dois padres jesuítas resolveram entrar ilegalmente no país e enfrentar um caminho tortuoso para pregar o evangelho, expondo os contrastes das religiões do ocidente e do oriente, conflitos da fé, da tradição e do progresso.
As vidas de Endo e de suas personagens mostram que, do Japão do Século XVII ao mundo globalizado atual, assim como do Êxodo judeu às Inquisições ou, das Guerras Gálicas às Cruzadas, há uma constante humana de imposição, de um grupo sobre o outro, do que acredita ser certo ou melhor, denotando um desvio, uma patologia psíquica mais ligada ao egocentrismo.
É que neste mundo de tanta diversidade social, de variadas etnias e culturas, a regra é a pluralidade de pensamentos, de crenças e de ideologias, uma vez que a hegemonia, de qualquer espectro ou matiz, trará dor e sofrimento àqueles que têm silenciadas suas vozes e sonhos por divergirem de uma suposta “corrente majoritária”.
Assim, avançar na prática da tolerância e do respeito é imperativo para a convivência harmônica entre os que, embora diferentes, são semelhantes na medida em que buscam a felicidade sem abrir mão de suas crenças.
É importante lembrar que cada indivíduo traz dentro de si um universo de experiências e possibilidades, representando, para uns, a própria humanidade, e para outros, a divindade que habita em cada ser.
Para ambos, são oportunas as palavras de São Lucas: o Reino de Deus está dentro do homem; não, de um só homem ou um grupo de homens, mas de todos os homens!