Em meio ao caos e dor, algumas vozes se levantam e nos desafiam a enxergar o que realmente importa para liderarmos a retomada da ordem das coisas em nossa trajetória.
Nas missas dominicais do Padre Fábio de Melo, transmitidas ao vivo pelas redes sociais para mais de cem mil pessoas, ele consegue colocar questões complexas em palavras simples e diretas, que induzem à reflexão e ao autoconhecimento.
Em uma dessas homilias, Padre Fábio expôs que as diversas revoluções industriais da humanidade tiveram um impacto antropológico, coincidindo com as teses de filósofos como Karl Polanyi, autor do livro “A grande transformação”, publicado na metade do século passado.
Invenções como a máquina a vapor e o surgimento da indústria têxtil, no Século XVIII; como o automóvel e aeroplano, no Século XIX; o desenvolvimento de novas tecnologias como a informática e robótica, no Século XX, formaram os meios de produção necessários para que as demandas crescentes de consumo fossem atendidas cada vez mais rápido, propiciando conforto à humanidade.
Por outro lado, a produção em massa, a logística just in time, a refeição fast food, causaram uma mudança comportamental significativa na sociedade, que se tornou imediatista e impaciente em todas as suas relações, esperando receber, em um estalar de dedos, o pedido da pizza e o resultado da terapia.
No entanto, algumas coisas precisam de tempo para acontecer em nossas vidas. Ainda são necessários dias para se fazer crochê; meses para conhecer as pessoas; de anos para aprender a tocar piano; e, às vezes, uma existência para curar a alma.
Como disse o referido celebrante, o mundo está sob uma linha de produção, mas, dentro de nós, a construção ou reconstrução do nosso “eu” continua a ser artesanal e exclusiva, cuja tarefa deve ser espelhada nos exemplos, mas lideradas por nós mesmos.
E é dessa autoliderança que cuidou a reflexão daquele domingo junino. Do desafio de, no meio da tempestade, seguir o exemplo do Mestre Jesus e nos transformarmos em nosso próprio líder. Dessa forma, despertaremos a luz interior que já existe, guiando-nos para longe dos perigos que soçobrariam nossa nau.
Nada mais oportuno nesta quadra histórica, cuja ausência de lideranças agrava as convulsões do planeta, do que sermos nosso próprio líder interior através da prática sincera da Cristandade, sendo este capaz de conduzir à concórdia e ao progresso individual e, consequentemente, coletivo.
Como disse Emmanuel, por Chico Xavier, o Líder de todos os líderes humanos transportava consigo a própria grandeza sem mostrar consciência disso, conviveu com a multidão, compadecendo-se de suas aflições e necessidades, ouviu os pequeninos e, com a força do amor, nascida da oração, curou os enfermos de toda espécie.
Com tal modelo e guia, de fato, não devemos mais aceitar ou seguir líderes que seduzem somente com as palavras, que descumprem promessas e professam outros sentimentos que não o do amor.
Sigamos, sim, o líder que nasce nos campos arados de nossa alma, semeados pelo Cristo e regados pela fé. Neste… podemos confiar.