Há alguns anos, quando autoridades falavam que tínhamos complexo de vira-latas e repetiam o mantra “orgulho de ser brasileiro”, eu me perguntava: orgulho de que?
Tenho profundo amor pela minha pátria. Penso que nossa gente é a mais hospitaleira e divertida do mundo, mas, quando se fala em ter orgulho de uma nação politicamente organizada, honestamente, eu não vejo motivos para esta ufania.
Desejaria pertencer a uma grande nação, considerada assim, não apenas pela sua dimensão continental, mas também pela magnanimidade das autoridades, eficiência da administração pública e solidariedade do seu povo.
Almejaria um país cujo enfrentamento da desigualdade social estivesse fulcrado no trabalho e na equidade de condições, dando a todos, homens e mulheres, a oportunidade de crescimento e autorrealização, e, não, em programas assistencialistas infindáveis, que somente engordam o redil eleitoral e fomentam a preguiça.
Aspiraria por um Estado efetivamente democrático, cujos mandatários seriam escolhidos por suas ideias, propostas e capacidade de implementá-las, e, não, porque a massa de eleitores é viciada em apanágios dados em campanhas com recursos do Fundão, ou seja, o povo sendo comprado com o seu próprio dinheiro.
Gostaria de presenciar um Estado de Direito de fato, onde as leis imperassem para todos, sejam presidentes ou servidores, sejam empresários ou operários; um Estado hierarquizado, de instituições fortes e independentes, cuja atuação seguiria estritamente os princípios republicanos, e, não, instituições aparelhadas e utilizadas para interesses partidários e seus projetos de poder.
Orgulharia-me de uma nação onde a liberdade de imprensa fosse o maior instrumento da democracia, regida pela verdade, nada mais do que a verdade, e que qualquer ato que a viciasse ou a tolhisse, desde a mínima censura até a viralização de fake news, fosse considerado um crime hediondo, um atentado à democracia, e punido exemplarmente.
Ah, Deus sabe como quero fazer parte de uma nação mais consciente, mais educada; que abandone o velho hábito de se dar bem em tudo; que respeite as filas, inclusive as de vacinas; que garanta as opiniões e o direito do próximo; que não se corrompa e que cumpra seu dever diuturnamente; que cuide de suas crianças, dos idosos e do meio ambiente, e que, ainda assim, mantenha seu espírito alegre e solidário.
Nós já temos uma terra abençoada, com a maior biodiversidade e inúmeras riquezas naturais, além de possuirmos a maior concentração de terra agricultável do planeta, rendendo-nos a denominação de “Celeiro do mundo”.
O que falta? Nosso povo precisa estar à altura de nossa terra. É acelerarmos o processo de conscientização coletiva, acabar com o jeitinho brasileiro e nos esforçar para que todos nós possamos ter uma nação digna de orgulho.
Nesse dia, quando chegar, aí, sim, eu poderei me unir em coro para cantar “eu sou brasileiro / com muito orgulho / e muito amor…”.