A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte foi foi palco, nesta quinta-feira (24), das mais importantes e inovadoras discussões acerca do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para a otimização dos trabalhos nas casas legislativas ao redor do mundo. No primeiro dia do “LegisTech: Modernização dos Parlamentos Subnacionais”, autoridades na área de tecnologia da informação do Canadá, Estados Unidos, África do Sul e com atuação na Europa discutiram como a Inteligência Artificial tem sido utilizada para melhorar o trabalho nos parlamentos ao redor do mundo. O foco foi economia, aceleração de processos, transparência e facilitação de pesquisas.
Na tarde da quinta-feira, após as apresentações da Assembleia Legislativa do Rio Grande Norte sobre as ferramentas que são mundialmente reconhecidas, como o ELegis, LegisVideo e LegisPlenário, representantes de casas legislativas e empresas que prestam serviços em países desenvolvidos expuseram os desafios que têm sido enfrentados. No Canadá, mais especificamente na província de Ontário, duas frentes têm recebidos os esforços dos profissionais de TI: transcrição de pronunciamentos e pesquisas legislativas.
De acordo com o Chief Information Officer (CIO) da Assembleia Legislativa de Ontário, Robert Eberhardt, o desafio tem sido grande, mas bons frutos já foram conseguidos, principalmente na transcrição de pronunciamentos. De acordo com ele, são necessários 30 funcionários, entre transcritores, editores e publicadores, para fazer a reprodução escrita do que é dito em discursos no Parlamento. De acordo com ele, uma hora de discurso demanda, em média, 15 horas de trabalho para a publicação do conteúdo.
“Há uma demanda para que essa documentação seja mais rápida e há uma pressão pelo prazo de entrega, mas às vezes se precisa de até 100 horas para produzir um documento assim”, explicou Robert Eberhardt, explicando ainda que, devido ao fato do país ser bilíngue, a ferramenta precisa identificar a mudança de idioma, o que é ainda mais desafiador. “Não é incomum que pessoas falem, durante o mesmo discurso, em francês e inglês, em determinados momentos.
Para reduzir esse prazo de transcrição, os profissionais de TI embarcaram num projeto de transcrição e estão trabalhando nisso, mas já há uma versão não editada completa, que seria adequada para se ler e entender, que demandaria não mais que 15 minutos para a transcrição.
“O documento é gerado em segundo plano com atraso de 15 minutos e cria novas eficiências para podermos liberar algumas pessoas e colocar esses trabalhadores em outras tarefas. Estamos investigando se a IA nos permite para fazer um direcionamento inteligente de ligar com vídeos para produzir um tipo de documento interativo”, disse, afirmando que, atualmente, há uma assertividade de 91% na transcrição, demandando o uso de outras ferramentas de IA já exitentes para que o conteúdo seja corrigido e editado.
Também participando da discussão, Wade Ballou, consultor da Câmara dos Deputados dos EUA, destacou a importância estratégica e apresentou o Comparative Print Suite, ferramenta para a transparência e modernização do trabalho parlamentar. Ele explicou que a plataforma, lançada oficialmente em outubro de 2022, permite que deputados e suas equipes comparem de forma visual e automatizada diferentes versões de projetos de lei, emendas e seus impactos na legislação vigente. Segundo Ballou, essa funcionalidade não apenas economiza tempo, mas também reduz erros e amplia a clareza nas deliberações legislativas.
Ballou também detalhou que o sistema oferece três tipos principais de comparação — entre versões de um mesmo projeto, entre um projeto e a legislação atual, e entre o projeto e suas emendas — utilizando cores e formatações específicas para indicar inserções e remoções. Ele enfatizou que o desenvolvimento do Comparative Print Suite, iniciado em 2017, envolveu uma colaboração entre o Escritório do Secretário da Câmara, o Escritório de Consultoria Legislativa e a empresa Xcential – que também participou do debate.
O co-fundador e CEO da Xcential Legislative Techonologies, Grant Vergottini, apresentou soluções que têm sido desenvolvidas em diversos países da Europa e também nos Estados Unidos, principalmente com o uso de da Inteligência Artificial Generativa. Além dele, também expuseram ferramentas durante a tarde de encontro do LegisTech o Principal do Programa de Conferência Nacional das Legislaturas dos EUA, Willian Clark, focando em acessibilidade e e feedback do eleitorado; e o Analista principal de TI Legislativo da Assembleia de Oregon (EUA), Sean McSpaden, que focou também em ações de cibersegurança.
De acordo com o especialista de Oregon, há uma cultura de cooperação entre as casas legislativas e universidades para o desenvolvimento de ferramentas que impeçam eventuais ataques hackers através da ações com IA generativa. Segundo ele, somente para essa área, um ex-aluno da Universidade Oregon doou US$ 50 milhões para o financiamento de pesquisas.
No encontro, houve também o lançamento no Brasil do livro “Artificial Intelligence in legislative services: Principles for effective Implementation”, cuja tradução literal é “Inteligência Artificial nos serviços legislativos: Princípios para implementação eficaz”. Além disso, todos os presentes se comprometeram a compartilhar as ideias, assim como tem feito a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, que tornou-se referência no desenvolvimento de ferramentas que têm colaborado com as casas legislativas no país.
A programação continua nesta sexta-feira (25), a partir das 9h, no auditório da Assembleia Legislativa, com transmissão através dos canais oficiais da Casa e da Bússola Tech.