A inauguração da Barragem de Oiticica, nesta quarta-feira (19), não fugiu ao script político já esperado. Sobretudo nos discursos, com troca de gentilezas, autoelogios e provocações a adversários. Não faltou, também, mais combustível no debate sobre qual governo é o “pai” da barragem.
Rodeado de ministros e de aliados locais, como a governadora Fátima Bezerra (PT), o presidente Lula desembarcou em Jucurutu para entregar aquele que passa a ser o segundo maior reservatório de água do Estado. Com capacidade para chegar a 740 milhões de metros cúbicos de água, Oiticica também fará parte do Projeto de Integração do Rio São Francisco, levando abastecimento para 43 municípios e 330 mil pessoas. Além disso, vai perenizar o rio Piranhas/Açu e ajudar no controle de enchentes no Vale do Açu.
A importância da obra, portanto, dispensa comentários.
Mesmo assim, a barragem virou símbolo da polarização política que castiga o país e objeto de uma verdadeira guerra, com as chamadas narrativas e com percentuais para lá de divergentes, girando em torno da discussão sobre qual governo fez mais pelo projeto.
Bolsonaristas dizem que o governo anterior foi que impulsionou a construção da barragem; lulistas asseguram que o complexo recebeu a maior parte dos investimentos nos governos do PT.
O presidente Lula chegou a falar que “mentira tem perna curta” e citou a participação da bancada federal do Estado por alocar R$ 203 milhões na obra. E aproveitou para criticar o antecessor Jair Bolsonaro, sem citar o nome dele.
“Não sei em quem votaram, não sei que time torcem. O que eu sei é que eu sou agradecido porque enquanto um presidente irresponsável só colocou R$ 87 milhões, os deputados e senadores colocaram R$ 203 milhões para fazer essa obra”, ressaltou Lula.
Os ministros seguiram a mesma linha do presidente. Waldez Goes (Integração e Desenvolvimento Regional) relatou que, ao assumir sua pasta, não encontrou recursos para a obra no Orçamento da União de 2023 — peça formulada pelo governo Bolsonaro. Rui Costa (Casa Civil), por sua vez, apontou que as gestões de Lula e a de Dilma Rousseff “colocaram 78% dos recursos dessa obra”.
A verdade é que Oiticica foi construída por vários governos, começando em Dilma, de fato, mas passando também por Bolsonaro e até por Michel Temer, antes de chegar a Lula 3, responsável pela conclusão do projeto.
No fim das contas, o duelo de versões e números acaba tendo uma relevância muito menor (para não dizer nenhuma), diante do que a barragem representa para a estrutura hídrica do Estado, principalmente do Seridó, e sobretudo para a população que vai se beneficiar dela.
O que o povo precisa, e quer, é o resultado final das ações do governo. A população é a verdadeira dona da barragem, construída com recursos públicos. Independentemente do governante no plantão.