Em 1945, a Europa, devastada pela Segunda Grande Guerra, necessitou de auxílio econômico internacional para se reeguer, tendo sido idealizado um Programa de Recuperação proposto pelo economista John Maynard Keynes. O plano recebeu o nome de “Marshall Plan”, em referência ao General George Catlett Marshall, prêmio Nobel da paz em 1953 e secretário de Estado durante o governo Henry Truman.
Naquela época, os EUA emprestaram aos países europeus US$ 18 bilhões (atualmente, US$ 120 bilhões), condicionando-os à compra prioritária de produtos norte-americanos, implantação de uma política de estabilização monetária e promoção de uma política de integração e cooperação.
Apesar da destruição e das 40 milhões de vidas perdidas, o fim da guerra e a execução do “Marshall Plan” propiciaram a reforma dos sistemas financeiros daqueles países e a recuperação da sua produção e consumo, ao mesmo tempo em que deram oportunidade, aos EUA, de acesso aos mercados europeus, aumentando sua influência e reafirmando sua posição de superpotência.
75 anos depois, a humanidade enfrenta outra ameaça global: a pandemia, que já ceifou cerca de 5 milhões de pessoas e derrubou as economias de países em todos os continentes, aprofundando uma crise sem igual na história.
Com a vacinação em massa (hoje, 3 bilhões de pessoas já completaram o esquema vacinal), a letalidade da covid, felizmente, despencou, permitindo que os governos se voltem para a economia fragilizada pela queda de consumo, desemprego, desabastecimento e inflação.
Os maiores mercados de ações da Ásia e dos Estados Unidos, que se recuperaram após o anúncio da primeira vacina, iniciou o ano de 2021 ainda no vermelho. O FTSE, índice que mede este mercado, caiu 14,3% em 2020, pior desempenho desde 2008.
Para se ter ideia da gravidade em que a economia se encontra, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que a economia global encolheu 4,4% em 2020, sendo considerado, pela Organização, o maior declínio desde a Grande Depressão dos anos 1930.
Como o caos na economia é outra fonte de ameaça à vida, países de todo o mundo traçaram os seus planos econômicos emergenciais. Os EUA aprovaram o “American Rescue Plan”, destinando o valor de US$ 1,9 trilhão para trabalhadores, Estados e municípios americanos superarem a crise econômica. O Brasil, por sua vez, destinou R$ 1,2 trilhão em empréstimos e subsídios para empresas e auxílios emergenciais neste período.
Tanto no passado, quanto no presente, há a constatação de que as grandes tragédias humanas vêm acompanhadas de crises econômicas dilacerantes, como as ondas gigantes que sucedem aos abalos sísmicos, necessitando de medidas restauradoras.
Por outro lado, as crises são fontes geradoras de novas oportunidades. Em plena pandemia, o modo de consumo da população mundial se alterou significativamente, passando da compra física para a digital. Esta mudança de comportamento impulsionou o varejo online, que teve uma receita global de US$ 3,9 trilhões em 2020.
No Brasil, as compras digitais somaram quase R$ 90 bilhões em 2020, saltando de 6%, no ano anterior, para 11% de todos os bens e serviços adquiridos no país, antecipando um mercado digital que, em condições normais, somente ocorreria no final desta década.
O segmento de saúde foi outro que navegou suave nesta crise. As ações das farmacêuticas chegaram a subir 700%, como as da Moderna, depois da descoberta e produção das vacinas, e os planos de saúde brasileiros ganharam a adesão de mais de 1 milhão de usuários no último ano, sendo a maior marca desde 2015.
Os números revelam que o “Marshall Plan” de ontem, assim como as medidas de recuperação da economia atuais, possuem, antes de tudo, o gérmen da resiliência que garantiu a continuidade da existência humana até os dias de hoje, fazendo com que a humanidade se erga com mais vigor após cada baque.
Assim, depois do luto, a luta… este momento de se adaptar ao mundo novo e ajudar ao soerguimento da economia de todas as nações, pois, afinal, nunca fez tanto sentido a antiga máxima: depois da tempestade, vem a bonança.