Circula na Câmara dos Deputados um requerimento para abertura de impeachment contra o presidente Lula, pelas declarações que o presidente deu, comparando as ações do governo de Israel em Gaza ao Holocausto.
É um pedido de impeachment que, em Brasília, pouca gente leva a sério e não deve ter grandes consequências. Mas que, por outro lado, tem caráter simbólico em alguns casos.
Um deles joga luzes sobre a política potiguar. Mais especificamente, sobre o deputado federal Paulinho Freire (União), que ontem firmou sua assinatura ao requerimento proposto pela controversa Carla Zambelli (PL/SP) e que, até ontem, já tinha mais de 120 adesões.
O gesto de Paulinho Freire está repercutindo — em Natal, principalmente — por ele ter um perfil mais moderado e ideologicamente de centro. Além dele, na bancada potiguar, só endossaram o requerimento de Carla Zambelli os deputados General Girão e Sargento Gonçalves, identificados com a extrema-direita e que já referendaram outras iniciativas para afastar o presidente.
No meio político, a interpretação é de que Paulinho Freire entrou no bloco dos que querem o impeachment de Lula para fazer um aceno à direita potiguar. Ele tenta agregar o voto bolsonarista ao seu projeto eleitoral, como pré-candidato a prefeito de Natal. Por outro lado, atende à ala do seu partido que é politicamente contrária ao Governo Lula, em contraponto à outra ala que defende o alinhamento governista.
Paulinho Freire nunca se alinhou a uma linha radical de fazer política. Até era visto por alguns correligionários como mais próximo do bloco aliado ao PT. Daí a surpresa provocada ontem, em observadores e na classe política do Estado.
Todos agora ficarão de olho na postura do deputado e pré-candidato, de agora em diante: se ele vai adotar um figurino mais sintonizado com os bolsonaristas ou se seu gesto nesta semana representa apenas um episódio isolado.