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Inicia-se o mês de maio de 2020 e, diante da pandemia que aportou no Brasil em março passado, a população tem muito mais perguntas do que respostas ante a demora, omissão e cabriolagem de ações de todos os entes da Federação.
Os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde – OMS, quanto a contaminação pelo coronavírus, causador da doença CoVID-19, são estarrecedores: quase 3,5 milhões de pessoas contaminadas no mundo e 240 mil mortes; no Brasil, mais de 6 mil compatriotas não viram o mês das noivas chegar, figurando entre os 10 países do mundo com a maior quantidade de sinistralidade.
Como nada é tão ruim que não possa piorar, a polarização política assumida por “torcidas organizadas” entre isolamento e economia forneceu mais cores fortes à tragédia brasileira, como se ambas medidas fossem antagônicas e, não, complementares, pois a opção de somente uma dessas via poderá ceifar vidas.
Neste panorama terrível, é preciso ampliar o debate, uma vez que a única medida apontada pelos Governos se baseia no isolamento social horizontal, que possui a função de reduzir a velocidade da disseminação do coronavírus e, com isso, achatar a curva pandêmica para que não haja o colapso do Sistema de Saúde.
A grande questão que envolve o combate a esta pandemia é que o vírus possui, como característica, a alta morbidade, ou seja, por ser de fácil contaminação e adoecimento, atingindo, especialmente, o aparelho respiratório humano, torna-se imprescindível, para seu tratamento, as internações em unidades intensivas para monitoramento e ventilação mecânica, não possuindo, as redes pública e privada de saúde, capacidade instalada para absorver uma demanda que cresce de forma exponencial.
Nessa esteira, a exposição da população ao vírus de forma desorganizada e sem qualquer estrutura parecerá uma aposta na tese Darwinista de seleção natural, onde os mais fortes sobreviveriam em detrimento dos mais fracos, e isso em nome de um mercado que não possui alma, mas que também é formado por pessoas que o impulsionam e o dotam de vida, sendo forçoso concluir que só há sentido mercado se houver fornecedores e consumidores vivos e sãos.
Sabe-se que a humanidade somente respirará tranquilamente depois que os cientistas descobrirem a vacina que permitirá a volta do abraço.
Atualmente, a corrida para descobrir a vacina ocupa pesquisadores de todo o mundo. Neste momento, há o concurso de 6 vacinas com testes em pessoas, sendo 3 nos Estados Unidos, 2 na China e 1 no Reino Unido.
No Brasil, o Instituto do Coração (Incor) tem desenvolvido pesquisa para a vacina brasileira, sob a chefia do imunologista Gustavo Cabral, que iniciará o teste em animais nas próximas semanas, trazendo esperança para esta nação.
Enquanto isso, o isolamento social ou sua medida extrema, o lockdown (paralisação total de todas as atividades humanas, exceto as essenciais), não é a única forma de enfrentamento ao coronavírus, como faz parecer ser os mensageiros do infortúnio que grassam diariamente nas redes sociais, ocultando, na sombra de uma meia verdade, interesses que vão além dproteção da vida humana.
O lockdown, na verdade, não deveria sequer ser considerado como opção, pois se traveste de outra forma cruel e nefasta à humanidade, uma vez que, atingindo a economia global, violentará a dignidade e a esperança das pessoas que perderam empregos e fecharam empresas, colapsando o sistema de consumo atual, o que poderá ocasionar o extermínio das vidas humanas que o isolamento prometeu guardar, desta feita pelo aumento da violência urbana e a provocação de outro surto de suicídios, sendo medida extremamente gravosa.
A Ciência e OMS recomendaram um outro caminho de enfrentamento à pandemia até que surja a vacina redentora, que é o distanciamento social e a testagem universal de contatos assintomáticos, promovendo o isolamento daqueles que podem, de alguma forma, transmitir a doença.
Este caminho foi trilhado com sucesso pela Coreia do Sul, que conseguiu frear o aparecimento de casos novos e reduzir a mortalidade a quase cem vezes menos que a Itália.
Neste momento, existem vários testes para o coronavírus disponíveis no mercado. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) já liberou 39 testes rápidos de diagnóstico a serem utilizados no Brasil, tais quais o Smart Test Covid-19 Vyttra e COVID-19, Real-Time PCR Kit, dentre outros.
Grande parte destes testes rápidos, de fato, possui sensibilidade e especificidade reduzidas em comparação as outras metodologias, segundo o Ministério da Saúde, que estima uma taxa de erro de até 75% para resultados negativos (falso negativo), devendo ser realizado com orientação médica e diante de sintomas, uma vez que o resultado positivo é confiável.
No entanto, testes como o RT-PCR, que é realizado através da detecção do RNA do vírus na amostra colhida na nasofaringe, e a sorologia (exame de sangue) que verifica a resposta imunológica do corpo em relação ao coronavírus a partir da detecção de anticorpos IgA, IgM e IgG, são tidos como seguros e próximos de 100% de precisão no diagnóstico da COVID-19, sendo recomendado que sejam realizados, pelo menos, 10 dias após o início dos primeiros sintomas.
A pergunta que não quer calar foi feita pela BBC Brasil, em 3 de abril último, na matéria intitulada “Coronavírus: por que o Brasil ainda não conseguiu fazer testes em massa?”. E a resposta parece que estava na ponta da língua das autoridades sanitárias ao alegar que faltariam insumos, o que não é de todo uma inverdade, uma vez que, em março, com o pânico instalado no país, faltou álcool em gel, máscaras descartáveis comuns e cirúrgicas, dentre outros equipamentos de proteção individual para o exército da saúde que luta no front desta batalha.
O Ministério da Saúde anunciou a negociação de 10 milhões de testes, além da aquisição de 4,3 milhões da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de empresas privadas, e a doação, pela Petrobrás, de mais 600 mil, e que o principal limitador era a capacidade de produção dos kits de RT-PCR.
Tais anúncios foram dados em 24 de março de 2020, ou seja, há exatos quarenta dias, e, até esta data (02/05), o que se vê é uma movimentação pardacenta e amortalhada dos agentes públicos, muito mais preocupadas com os efeitos de suas ações politiqueiras do que com uma efetiva solução de compatibilização entre contenção do contágio e garantia do emprego e renda.
Para se ter ideia, o Ministro da Saúde, em reunião com os Govenadores, surpreendeu a todos ao pedir a dica de onde comprar respiradores, demonstrando o quão baldado se encontra.
E isso não é exclusividade da União. O Governo do RN é fantasmagórico em ações das suas autoridades, mais ocupadas em prever cenários apocalípticos do que em dar condições de trabalho aos profissionais de saúde.
A rede privada de laboratórios no país comprovam que a falta de insumos não é argumento válido, pois, apesar de serem ainda caros (entre 200 e 400 reais), há exames de sorologia e RT-PCR disponíveis para os pacientes particulares e usuários dos planos de saúde.
O que faltam, na verdade, não são insumos, mas vontade política e espírito público de autoridades letárgicas e inexpressivas diante deste enorme desafio humano, que preferiram comprovar suas ideologias em visível defecção para com o povo brasileiro.
Kennedy Diógenes. Advogado.