A pichação que manchou o Forte dos Reis Magos vem indignando potiguares e todas as pessoas que reconhecem o seu valor histórico e cultural.
Por mais legítima que seja a causa dos direitos indígenas, motivação aparente dos pichadores do Forte, é totalmente despropositado o que fizeram. Sob nenhum aspecto, justifica atentar contra o patrimônio público, como foi feito. O que aconteceu foi um crime contra o bem histórico-cultural do RN. Ponto.
Tanto que o ato já determinou a abertura de dois inquéritos contra os pichadores, um na esfera da Polícia Civil e outro no Ministério Público do Estado. Seria muito bom que ambas as investigações — pelo menos uma delas — identificassem os autores desse crime e resultassem em punições rigorosas. Esperamos que assim aconteça.
Há, porém, pelo menos um outro ponto a se extrair desse episódio deplorável. É que ele chama a atenção para o modo como o Estado vem tratando o velho Forte. E o tratamento não é dos mais elogiáveis.
Muito pelo contrário, a monumental fortificação, possivelmente uma das mais belas do Brasil, pela sua localização no encontro do rio com o mar, está sofrendo com o descaso oficial. E não é de hoje, que se diga logo, antes que surjam discursos de oportunismo político.
O Forte até passou por uma reforma estrutural recente, com as obras entregues pelo Governo do Estado no final de 2021. Sem dúvida, uma ação positiva em favor da histórica edificação. Mas foi só.
O entorno do Forte continua mal cuidado. Não há uma estrutura atraente de quiosques para venda de artesanato e outros produtos típicos na área que fica antes da passarela que dá acesso ao Forte. Há deficiências também em termos de sinalização e de espaço para estacionamento.
Não há, da mesma forma, atrativos que agreguem valor ao Forte, como eventos e atividades de cunho educativo, cultural ou turístico. A fortaleza não dispõe sequer de guias turísticos para melhor recepcionar os visitantes e contar a sua história.
Todos estes são sinais de que o Forte dos Reis Magos não é valorizado como deveria. Uma pena, porque deveria ser um equipamento mais explorado para contar a História de Natal aos seus habitantes e visitantes. Sabemos que a carência de museus e outros espaços do gênero são uma deficiência turística em Natal e outras cidades brasileiras. É praxe no Brasil a pouca importância dada à nossa memória.
Chega a ser uma incoerência. Afinal, muitos potiguares saem do Brasil para conhecer museus e memoriais em outros países. Mas não valorizam sua própria história.
Se há males que vêm para o bem, fica a esperança de que este atentado ao Forte dos Reis Magos sirva para que toda a sociedade, a partir de seus representantes públicos, reveja sua postura sobre seus bens históricos.
E zelem muito mais por eles.