O presidente Lula é tido, e com razão, como um dos políticos mais hábeis do Brasil na História recente, detentor de uma intuição das mais apuradas.
A postura de Lula diante da visita do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ao Brasil, nesta semana, sugere que o feeling político do presidente brasileiro está no mínimo descalibrado.
O comportamento de Lula ao lado de Maduro está lhe rendendo um tremendo desgaste. Um tiro de alto calibre que saiu pela culatra, gerando um fracasso de público e de crítica até junto a aliados.
Sem contar o vexame que foi ver presidentes de países sul-americanos, sobretudo do Uruguai e do Chile, criticando-o publicamente, para todo o Brasil e toda a América do Sul verem. Uma reação a falas de Lula como as de que a “Venezuela é vítima de preconceito” e de que a ditadura naquele país não passa de “narrativa”.
Político de esquerda, o líder chileno Gabriel Boric não poupou o colega brasileiro, dizendo que não dá para fazer “vista grossa” com o que acontece na Venezuela e que a opressão oficial por lá é uma “realidade”. O uruguaio Luiz Lacalle, por sua vez, não fez rodeios e disse ter ficado “surpreso” com a tese de Lula sobre sobre a suposta narrativa acerca do país vizinho e disparou que “não se pode tapar o sol com o dedo”.
O regime na Venezuela é comprovadamente autoritário. Prende e mantém presos adversários políticos, amordaça a imprensa e já provocou a fuga de 7 milhões de venezuelanos. São fatos atestados por organismos internacionais importantes. A começar pela ONU.
Aqui não é o caso de criticar a reaproximação institucional do Brasil com a Venezuela, retomando as relações diplomáticas com aquele país, interrompidas no governo passado por ordem de Jair Bolsonaro. Mas não dá para tolerar que se festeje um ditador com tanta pompa e circunstância, como fez Lula diante de Nicolás Maduro.
Ao menos, não de maneira oficial, usando espaço e dinheiro público.
Se Lula tem ligações ideológicas ou mesmo amizade com Maduro, ninguém pode lhe tirar o direito ao livre-arbítrio — direito, aliás, que é negado ao povo venezuelano.
O que Lula não pode é fazer do Palácio do Planalto, do Itamaraty e de nenhum outro espaço oficial o quintal de sua casa, para ser usado como ele quiser.
Ele foi eleito para ser presidente do Brasil e representar os interesses dos brasileiros, dentre os quais não está obviamente a defesa de ditaduras.
Seus posicionamentos na desastrosa agenda com Maduro também devem arranhar a estratégia de Lula de se tornar de novo uma liderança regional e, até, de pleitear um sonhado Nobel da Paz. O que se acentua após a postura dúbia do presidente em relação à guerra da Rússia com a Ucrânia, mas com inclinações em favor de Vladimir Putin.
O presidente Lula, até para seus objetivos, precisa corrigir a rota do seu governo. Isto vale tanto para a economia doméstica, diante das derrotas que vêm se acumulando no Congresso Nacional, quanto para a política externa, baseada por uma “diplomacia de tiro no pé”.