“Quem eu quero, não me quer / Quem me quer, não vou querer / Ninguém vai sofrer sozinho /Todo mundo vai sofrer…”.
A música “Todo mundo vai sofrer”, composta por Marília Mendonça em 2019, não me saiu da cabeça desde o momento em que soube da trágica morte da cantora, neste fim de tarde de sexta-feira (05/11).
Com enorme vocação para a música, Marília Mendonça começou a compor desde cedo. Aos 12 anos, vários cantores já emprestavam a sua voz para dar vida às suas composições até que, em 2014, partiu para uma carreira própria e meteórica, que a catapultou para os primeiros lugares nas paradas de sucesso, revolucionando o sertanejo com músicas como “Impasse”, “Infiel”, dentre tantas outras.
Ao reproduzir, em suas músicas, as dores da mulher, suas perdas, traições, desilusões e abandonos, Marília compartilhou suas próprias experiências e encontrou identificação em uma legião de fãs, que a coroou como a Rainha da Sofrência e companhia necessária para enfrentar as dores de cotovelo.
Durante seus curtos 26 anos de existência, e lutando contra condições adversas, Marília Mendonça rasgou o véu do anonimato com o brilho do seu dom, chegando ao estrelato nacional de forma incontestável. Em “De quem é a culpa”, a cantora parece questionar o segredo do seu sucesso:
“A culpa é sua por ter esse sorriso / Ou a culpa é minha por me apaixonar por ele?”
Não. Não foram só sorrisos ou paixões da cantora que encantaram o Brasil, mas seu talento brutal e a sua entrega ao trabalho e aos fãs, que turbinaram sua carreira de forma tal que, quando menos esperávamos, estávamos envolvidos pela sua força e intensidade.
“E quando se der conta já passou / Quando olhar pra trás já fui embora”.
Essa estrofe de “Eu sei de cor” prenunciava a inconstância da vida. Tudo, na passagem de Marília Mendonça, ocorreu muito rápido. Nascimento, início da carreira, sucesso, apogeu e desaparecimento físico estão espremidos em 26 anos, dando-nos outra importante lição: a vida é passageira e fugaz para ser desperdiçada pelo medo de se perseguir os sonhos.
E tudo valeu a pena? Marília responde em “Uma vida a mais”:
“E vai valer a pena, é claro que eu sei / A recompensa que eu sempre sonhei / Cada minuto sinto que é mais real / Ganhar seu beijo é o meu desejo…”.
A cantora, assim como seu tio e assessor, Abicieli Dias, o seu produtor, Henrique Ribeiro, e os pilotos da aeronave, Geraldo Medeiros e Tarciso Viana, morreram fazendo aquilo que nasceram para fazer, todos trabalhando pelo sonho de transformar para melhor as suas vidas e a de suas famílias.
Vitória, filha do piloto Geraldo Medeiros, postou em suas redes sociais uma frase para o pai que, certamente, encontra eco no peito dos familiares, amigos e fãs de todas as vítimas, sintetizando tudo o que importante para se dizer àqueles que partem: te amo para todo o sempre…
Assim, Marília Mendonça partiu do nosso meio para estrear em outro plano, deixando um legado de muitas lições de vida, inclusive, de como se reinventar e vencer através da criação e da arte, inspirando a todos que tiverem a oportunidade de conhecer um pouco mais de sua história.
No fim, de tão curta que foi sua passagem, dá vontade de sentar em uma mesa de bar, puxar uma cadeira e cantar um trecho da música composta por ela em 2012, “Minha herança”:
“Vai senta aqui do meu lado / Me deixa te olhar / E sentir o seu cheiro / Pra me renovar / Fale do que você quiser / Eu quero ouvir sua voz / Fale do mundo, dos seus planos / Me fale de nós…”.