Da década de 1980 até os dias atuais, três eventos marcaram profundamente a humanidade e mudaram, em algum aspecto, o modo de vida de parte significativa da população mundial.
O primeiro evento se deu em 9 de novembro de 1989, com a queda do muro de Berlim, que trouxe, como consequência, a reunificação da Alemanha, dividida desde 1945, e apressou as reformas promovidas por Gorbachev, líder russo, reintegrando o leste europeu e acabando com parte da cortina de ferro.
Quase 12 anos depois, em 11 de setembro de 2001, o ataque terrorista aos Estados Unidos iniciou uma outra guerra – a guerra contra o terror – que levou o Exército americano a travar uma luta de duas décadas no Afeganistão, e inaugurou uma era de terrorismo doméstico que recrudesceu os critérios de segurança internacionais.
O terceiro evento se destacou com a notificação à Organização Mundial da Saúde – OMS, em 31 de dezembro de 2019, de vários casos da covid-19 em Wuhan, na China, causados pelo coronavirus que se alastrou e parou o planeta Terra, infligindo à espécie humana a pior pandemia da história conhecida, que já fez desaparecer 5 milhões de pessoas.
Evento após evento, depois de passado o choque, é possível olharmos do alto e analisarmos o efeito catalizador de cada um destes, verificando, a partir daí, progressos ou retrocessos a partir das decisões que adotamos para a resolução dos seus efeitos.
A queda do muro de Berlim provocou a reunificação da Alemanha, atual líder regional; a abertura do leste Europeu para as sociedades capitalistas, propiciando o fortalecimento dos países europeus; e a instituição de um dos mais importantes blocos econômicos mundiais, que é a União Européia, hoje composta por mais de 27 países.
A queda das torres gêmeas provou a vulnerabilidade da superpotência ocidental que, para se reerguer moralmente, lançou-se à perseguição vingativa ao grupo terrorista Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, e invasão ao país afegão. Depois de duas décadas, os EUA, pressionados pela política interna, repetiram, em Kabul, a desocupação desastrosa de Hanói, na Guerra do Vietnã, deixando para trás seus aliados e milhões de dólares em equipamentos militares.
A queda das fronteiras sanitárias fez todo o planeta de refém, deixando-nos paralisados diante da maior crise pandêmica já enfrentada, que dizimou milhões de pessoas e derrubou economias inteiras. A reação veio da cooperação científica internacional e do esforço conjunto para produzir uma nova geração de vacinas em tempo recorde, o que tem produzido alívio às pessoas e permitido uma volta gradual à normalidade.
Ao sintetizarmos estes eventos, percebemos que o elemento comum entre eles é o combate a algum inimigo e os seus efeitos: uma guerra mundial dividiu o mundo até que o fim de uma guerra fria tenha derrubado muros e reunido povos; uma guerra ao terror, que derrubou torres, gerou mais guerras, destruição e mortes até que guerras políticas produziram desocupações vergonhosas; uma guerra sanitária parou o mundo até que os esforços conjuntos de pesquisadores produziram a vacina libertadora…
O que a história nos tem ensinado com isso? Se o fio condutor é a guerra, foi a forma que lidamos com tais fatos históricos que definiu o nosso progresso ou retrocesso.
Foi o que estes fatos demonstraram ao contabilizarmos conquistas quando escolhemos a via da paz e da união entre os povos, e derrotas quando insistimos na via das respostas violentas e repletas de vingança. Derrubar muros e unir esforços produziram lideranças, riquezas e vacinas, enquanto a invasão de países e a caça aos terrorista só geraram mais violência, morte e vergonha diante da comunidade internacional.
Ampliando esta reflexão, é possível deduzirmos que a mesma lógica deve se aplicar, guardando-se as devidas proporções, aos fatos importantes da nossa vida pessoal e profissional, uma vez que todos nós temos nossas próprias guerras, adversários e aliados ao longo de nossas existências.
Do macrocosmo ao microcosmo, o consenso e a cooperação mútua produzem resultados positivos e propiciam conquistas que coroam uma vida de êxito e bem-estar, que são a marca do sucesso das grandes alianças empresariais, dos casamentos felizes e das realizações mais íntimas.
Ao contrário, a violência produz rejeição e isolamento, conduzindo os seus adeptos ao gueto do desassossego e da escuridão, onde tais energias entram em espiral crescente até que o ódio os consuma inteiramente, pois, como disse Jesus, quem com o ferro fere, com o ferro será ferido.
Ao olharmos para trás, aprendendo com os nossos próprios erros, poderemos concluir que o único caminho possível para o progresso individual, assim como tem sido no coletivo, não é o do conflito odioso, mas o do diálogo, da paz e da união entre os mais próximos.
Por isso, na próxima crise, lembremos o caminho do meio ensinado por Buda, que também é o da paz e o da verdade, pois será este, e não qualquer outro, que propiciará um ambiente onde, por maior que seja a ameaça, sempre favorecerá a melhor solução para a nossa evolução moral e intelectual.