Einstein dizia que só há duas maneiras de se viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem; a segunda, como se tudo fosse um milagre.
Diferentemente do que normalmente acontece, não faço o artigo semanal no aconchego da minha casa, mas de um leito de hospital, depois de ter sido submetido a um procedimento de urgência para extração de cálculo renal.
Para quem já sofreu desse mal, sabe que as dores não são tímidas, não permitindo que sejam simplesmente ignoradas. Insuportáveis, fizeram-me procurar o serviço de urgência hospitalar para investigar tais dores, tendo, como diagnóstico, uma crise renal com leucocitose, tornando-se recomendável a cirurgia imediata.
Graças a Deus, e aqui está a minha visão Einsteinana, as dores foram milagres que me impulsionaram a corrigir, em tempo, um mal que poderia se agravar, e os médicos, que me assistiram, o fizeram com competência e desvelo, o que sou eternamente grato.
Assim, enquanto me recupero, fui buscar a visão holística das doenças, uma vez que, para muitas correntes religiosas e filosóficas, os males que se manifestam no corpo físico são precedidos por desequilíbrios que se agomam na alma.
A Medicina Tradicional Chinesa, por exemplo, fundamenta-se em conceitos filosóficos que englobam uma força ou corrente vital (o qi), o equilíbrio entre duas forças vitais que se opõem e complementam (o yin e o yang), e na teoria de que todas as coisas são compostas por cinco elementos: madeira, fogo, terra, metal e água.
Para esta prática milenar, as doenças surgem como fatores internos para reequilibrar o nosso universo interior, sendo, o papel da medicina, o de restabelecer as sete emoções básicas relacionadas às funções orgânicas, que são a raiva, alegria, preocupação, pensamento obsessivo, tristeza, medo e choque.
Dessa forma, cada órgão corresponde a uma emoção e o desequilíbrio desta poderá afetar a função daquele. Por exemplo, a raiva prolongada pode levar a um desequilíbrio no fígado. Ao mesmo tempo, desequilíbrios no fígado podem produzir sintomas de raiva que geralmente levam a um ciclo autoperpetuador.
Nessa toada, fui pesquisar o assunto e descobri que, metafisicamente, os rins representam o referencial físico da habilidade de se relacionar e vivenciar as experiências afetivas através dos relacionamentos interpessoais, que englobam principalmente, os familiares e amigos.
Complicações renais, portanto, constituem-se quando cultivamos mágoas, criticamos excessivamente os mais próximos ou alimentamos inseguranças e medos do futuro, plasmando, em nosso corpo, as pedras que tememos encontrar em nosso caminho.
De fato, fazendo a “mea culpa”, nestes tempos de pandemia, onde o medo do futuro deixou de ser exclusividade dos excêntricos, eu me tornei bem mais preocupado com as questões econômicas e, consequentemente, mais exigente com minha família e amigos, o que aproveito para pedir perdão pelos meus excessos e compromisso com a mudança necessária para evitar crises futuras.
Para mim, tudo faz sentido, pois, por mais natural que a incerteza do futuro possa parecer diante da maior crise sanitária já enfrentada pela humanidade, o nosso corpo não deixou de registrar o desequilíbrio energético e filtrá-lo, materializando-o nestes dolorosos cálculos renais como meio de restabelecimento energético.
A visão metafísica acerca das doenças também foi açambarcada pela doutrina codificada por Allan Kardec. Segundo o espiritismo, a causa das nossas doenças está no espírito, e as lesões do corpo físico são projeções do pensamento e dos sentimentos que se adensam na matéria.
Chico Xavier, acerca disso, ensinou-nos que doenças e obsessões são testes que nos põem à prova a capacidade de resistência moral, ensinando-nos a valorizar a saúde do corpo e o equilíbrio da alma.
Esta mesma lógica se aplica à todas as patologias, como a hipertensão arterial sistêmica, que aflige pacientes com personalidade controladora. Portadoras deste mal, ao perderem o controle de uma determinada situação, geram um sentimento de raiva que, descarregando sobre o seu próprio corpo somático, produzem distúrbios cardiopáticos como a hipertensão arterial.
E tudo isso não é somente crença ou dogma. A ciência já tem comprovado que a origem do câncer, em grande parte, encontra-se fortemente relacionada às decepções e impactos emocionais que descontrolam o psiquismo, ou aos conflitos emocionais e existenciais mal resolvidos que, acumulando-se conforme o grau de incidência do sentimento sobre determinado órgão, passa a degenerar suas células na tentativa de reequilibrar o sistema.
Acreditando ou não na perspectiva metafísica das doenças, há numerosas pesquisas que demostram que espiritualidade, religiosidade e fé interferem de maneira positiva no enfrentamento dos obstáculos e dificuldades da vida. Tais atitudes mentais e espirituais aumentam a resiliência do paciente e melhoram sua condição patológica em cerca de 30% a mais do que os pacientes que não as possuem.
O que posso dizer é que tenho aprendido a ver as doenças e dores, sejam transitórias ou crônicas, como aliadas ao nosso progresso espiritual… verdadeiros milagres que nos induzem à reflexão e à empatia, uma vez que o abalo à saúde nos limita e nos coloca em condição de fragilidade perante a vida. Quem vivencia tais experiências passa a ter responsabilidade de como se deve tratar o outro nas mesmas circunstâncias.
No fim, exceto o amor, que é a energia propulsora da vida, tudo passa, inclusive as doenças, as dores e os sofrimentos, que, ao contrário do que pensamos, são oportunidades de crescimento e fortalecimento de nossos espíritos.