Para a maioria de nós, o ápice do glamour seria poder atravessar, sob os cliques de fotógrafos do mundo inteiro, o tapete vermelho do Dolby Theatre, local onde a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas americana confere a premiação do Oscar para os melhores do ano.
No entanto, ao assistirmos este desfile de estrelas, admirando atores e atrizes que galgaram a fama, costumamos esquecer ou não nos interessar pela trajetória, às vezes, um longo caminho percorrido, que precedeu o sucesso de cada um deles.
Uma dessas histórias inspiradoras, sendo, ela própria, um excelente roteiro de filme, é a do astro Sylvester Stallone, conhecido mundialmente pelos seus filmes como Rocky Balboa e Rambo, e que teve que escalar montanhas de dificuldades e tragédias pessoais até atingir o seu sonho.
Quem assistiu um só filme de suas franquias, deve ter notado a maneira peculiar de Stallone falar, com um dos lados da boca mais baixo e de forma rosnada, que pareceria, a primeira vista, a interpretação de sua personagem, mas, na verdade, é uma condição fisiológica do astro que, por complicações em seu parto, ficou com sequelas para a vida toda.
Pois é. Rocky e Rambo herdaram, do seu criador, uma paralisia nos nervos faciais que dificultava a sua fala, sendo este o principal motivo de inúmeros bullyings na escola. Mas não foi somente isso que transformou os seus primeiros anos em um inferno: a sua mãe tinha problemas afetivos (segundo Stallone, ela só o beijou em duas ocasiões) e seu pai o agredia com frequência, potencializando os obstáculos de seu caminho.
Na vida adulta, a futura estrela dos filmes de ação vivia de empregos temporários e mal remunerados, chegando a aceitar participar de um filme pornográfico que sequer foi lançado, mas que o despertou para o distante mercado cinematográfico para ele naquele momento.
Sobre esta época, Stallone declarou:
“Aos 26 anos estava totalmente quebrado, indo a lugar nenhum muito rápido, possuía dois pares de calças que mal me cabiam, sapatos que tinham buracos e o sonho de ser bem sucedido estava tão longe quanto o sol”.
A situação piorou tanto que, desempregado e morando em um hotel barato, sobre uma parada do metrô novaiorquino, teve que vender Butkus, um cão da raça bullmastiffem e seu único companheiro, na frente de uma loja 7-Eleven, por 40 dólares, para que ele não morresse de fome, deixando seu dono devastado.
Duas semanas depois deste fato, Stallone foi assistir à luta de Mohammed Ali e Chuck Wepner, sendo este último um ilustre desconhecido no mundo do boxe, mas que suportou os golpes de um dos maiores lutadores da história até o décimo quinto round e inspirou o roteiro do pugilista ítalo-americano, escrito em apenas 20 horas.
Depois de muitas portas fechadas, Rocky recebeu a proposta de 350 mil dólares, mas o protagonista teria que ser um artista conhecido, o que não foi aceito por Stallone. A United Artists resolveu ceder e permitiu que ele fosse o protagonista, mas não poderia investir tanto nesta aventura, fechando o negócio pelo valor de 35 mil dólares.
A primeira coisa que Stallone fez, assim que recebeu o dinheiro, foi recomprar seu companheiro Butkus do seu novo tutor. Nas palavras do próprio Stallone:
“O novo tutor sabia que eu estava desesperado para ter o cão de volta. E após muita insistência, ele me vendeu, conseguindo me tirar 15 mil dólares e ainda exigiu um papel no filme. Valeu cada centavo gasto!”.
A sua atitude revelou, além da lealdade ao outro, um ensinamento que vale ouro: nunca se abandona, custe o que custar, quem esteve do seu lado em momentos difíceis.
O filme Rocky, que Butkus faz parte com parceiro do pugilista, foi lançado, nos EUA, em dezembro de 1976, e no Brasil, em janeiro de 1977, entrando para a história do cinema mundial, pois ganhou vários prêmios de melhor direção, melhor edição, melhor ator e melhor filme, inclusive o Oscar por estas duas últimas categorias.
A fama, o sucesso e o dinheiro vieram até Stallone, mas não transformaram sua vida em um mar de rosas. Dentre outras tragédias, ele quase morreu durante as filmagens de Rocky 4 (1985); teve que lidar com o autismo de seu filho, Seargeoh, em uma época incipiente sobre o transtorno; e testemunhou a morte, por ataque cardíaco, de seu filho mais velho, Sage, aos 36 anos, que tinha um futuro promissor, tendo atuado ao lado de seu pai em Rocky V (1990).
A história de Stallone e Balboa é, de fato, uma lição de vida. O protagonista do filme, em uma de suas falas, assim sintetiza algo extremamente importante para lidarmos com as adversidades:
“A vida não é sobre quão duro você é capaz de bater, mas sobre quão duro você é capaz de apanhar e continuar indo em frente”.
As lições do roteirista, ator e diretor de Rocky não param por aí. Para inspirar todos aqueles que estão na jornada, que se encontraram ou ainda buscam seu lugar ao sol, Stallone diz:
“Nunca deixe que destruam seu sonho. Seja o que for que aconteça, continue sonhando. Mesmo quando esmagarem sua esperança, continue sonhando. Mesmo quando te deixarem sozinho, continue sonhando. Ninguém sabe do que você é capaz a não ser você mesmo. Enquanto você estiver vivo, a sua história ainda não acabou.”
Com isso, aprendemos que a vida é um ringue e os sonhos, assim como os cinturões de campeão, precisam ser defendidos com garra até o último suspiro.