Culpas, fobias, traumas, mágoas e situações mal resolvidas do passado são nossos guias no caminho dantesco da depressão, que cresce em silêncio, dia a dia, no “cadinho” de nossos lares.
Longe da vida perfeita apresentada nas redes sociais, todos nós guardamos as dores que carregamos no corpo e na alma. Mas, e se alguém dissesse que grande parte dessas frustrações, das doenças e dos desencontros de nossas vidas pode ter ligação direta com os nossos relacionamentos dentro das nossas famílias, você acreditaria?
Pois é. O teólogo, filósofo e pesquisador alemão Bert Hellinger (1925-2019) afirma exatamente isso: o adoecimento do indivíduo possui origem na memória coletiva do sistema familiar em que nasceu, e, somente quando se traz estes fatos à tona e se reconcilia, é que se encontra a paz.
Foi pensando nisso que, em 1978, Hellinger criou a constelação familiar, que é uma técnica terapêutica constituída a partir de conceitos energéticos e fenomenológicos voltados para a solução dos conflitos familiares repetidos por gerações.
Para Hellinger, a família é a base que define o comportamento humano, e cada indivíduo possui lugar certo no universo regido por leis que chamou de “Ordens do Amor”, quais sejam a lei do pertencimento, lei do equilíbrio entre o dar e receber (reciprocidade) e lei da hierarquia.
Assim, o amor é a única força que nos impulsiona no universo, e é, a partir dele e de todas as suas derivações, tais quais o perdão, a tolerância e a caridade, que conseguiremos alcançar a felicidade e o desenvolvimento dos nossos potenciais humanos.
O contrário disso acarreta “emaranhamentos” no núcleo familiar que atingem fortemente os descendentes, independentemente de terem convivido com os causadores, na tentativa de reequilibrar o sistema e romper com o ciclo de dor e sofrimento.
Durante o processo terapêutico, o paciente, também chamado de constelado, percebe que vem repetindo padrões de comportamento de membros da sua família, sendo necessária a superação destes sentimentos para que possa seguir em frente.
Uma constelada, por exemplo, identificou que possuía dificuldades para amar seu parceiro. Ao abrir sua constelação familiar, percebeu que a origem disso estava no sentimento de rejeição que sua avó paterna carregava, uma vez que foi rejeitada pelo homem que amava, imprimindo, na vida da neta, que se evita sofrer por amor, quando não se ama.
Outro constelado descobriu que um bisavô, que havia enganado o sócio em um negócio, era a causa de sua dificuldade em ser bem sucedido nos negócios, como se isso fosse uma forma de compensar o que seu antepassado fez ao outro.
Bert Hellinger explicou que esta repetição de comportamento não se trata de maldição, mas de uma aliança ou lealdade firmada pelos descendentes, ainda que inconscientemente, para honrar as obrigações pactuadas pelos ascendentes.
Obviamente que, para qualquer cura, há de se ter a adesão ao tratamento, não sendo diferente com a constelação familiar. É preciso que o indivíduo esteja aberto à transformação proporcionada pelo processo, oportunidade em que os terapeutas (consteladores) sugerem certas frases impactantes para a cura sistêmica, tais quais “eu aceito você como é”, “respeito sua dor, mas ela é sua”, devolvo o que é seu e tomo o que é meu”, “se meus ancestrais causaram mal, por favor, perdoe-nos”, “eu te perdôo”, “está tudo bem”…
Segundo os especialistas, tais formas de pensamento ingressam na psique humana e ajudam a ressignificar dores, mágoas e conflitos, o que proporciona a paz e um novo recomeço ao constelado, caso ele deseje sinceramente.
É por isso que o teólogo alemão ensinou que, na maioria das vezes, nós não precisamos de um novo caminho, mas de uma nova forma de caminhar, alterando o ambiente ao redor a partir das mudanças que fazemos dentro de nós mesmos, deixando de repetir o padrão comportamental dos que nos antecederam para assumir o nosso próprio destino.
No fim, a constelação familiar, apesar de técnica relativamente recente, repete ensinamentos filosóficos e religiosos milenares, onde acreditar que nascemos para o amor, para a prosperidade e para felicidade é pressuposto de uma vida saudável e intensa, porque a merecemos verdadeiramente.