Petrúcio Amorim, cantor e compositor pernambucano, contou a história que está por trás de sua icônica música “Tareco e Mariola”, que inicia assim:
“Eu não preciso de você / O mundo é grande e o destino me espera / Não é você que vai me dar na primavera / As flores lindas que sonhei no meu verão…”.
Esta letra não trata de um amor perdido, ao contrário de grande parte do cancioneiro nordestino, mas, sim, do sonoro “não” que o cantor recebeu de um produtor musical, no início de sua carreira, quando saiu do Recife para mostrar seu trabalho em um evento promovido pela Fundação de Cultura de Caruaru.
Amorim, apesar de ter cantado em um palco secundário depois de muita luta e intervenção do prefeito, expressou a sua raiva, dor e frustração provocadas pelo “não” recebido do produtor musical nesta bela estrofe:
“Você foi longe / Me machucando provocou a minha ira / Só que eu nasci entre o velame e a macambira / Quem é você pra derramar meu mungunzá…”.
Assim, concluiu, o cantor pernambucano, que um “sim” abre muitas portas, mas um “não” abre muito mais, demonstrando a raça e a coragem de lutar pelo seu lugar ao sol, como é próprio de todo bom brasileiro.
De fato, minhas experiências profissionais somente ratificaram a história contada pelo autor de “Tareco e Mariola”, mostrando que, durante nossa vida, há pessoas que nos incentivam e outras que nos sabotam, existindo muitas maneiras de se negar o brilho com que cada um nasceu.
Pouca gente sabe, mas, na década de 1990, eu trabalhava como analista de marketing no Rio Grande do Norte, chegando a prestar serviço ao PNUD, órgão da ONU que possui o objetivo de fomentar programas de crescimento inclusivo e sustentável em países de terceiro mundo.
Pelo êxito da empreitada, terminei sendo indicado para consultoria em uma distribuidora de produtos farmacêuticos que, a partir de sua sede (na capital Potiguar), atuava em cinco Estados brasileiros, inclusive São Paulo, o que me encheu de entusiasmo ante o desafio de posicionar a marca no mercado nacional.
Em pouco mais de um mês, entreguei o planejamento estratégico, o que agradou o Diretor comercial, um estrangeiro naturalizado, que me convidou a assumir o cargo recém criado de Executivo da empresa, prometendo-me, como remuneração, um percentual sobre o valor da receita mensal.
Como vi a oportunidade de crescimento, dediquei-me de corpo e alma, abdicando do tempo com a família e, em apenas dois anos, a marca havia se posicionado entre as três líderes e a receita havia se multiplicado por 10 (literalmente).
O “não” dado a mim, nessa história, não foi a negativa de oportunidades, mas a de reconhecimento do trabalho desempenhado, pois, cada vez que o faturamento dobrava, o Diretor estrangeiro diminuia a minha comissão, fazendo-me, praticamente, estacionar no patamar remuneratório do início da empreitada.
Há muitas formas de “nãos” e o meu foi em retalho, espezinhando a autoestima e sabotando a esperança, fazendo com que me sentisse tão frustrado com as promessas quebradas que, em dezembro de 1999, desencantei-me com a área do marketing que, naquela época, apenas engatinhava no RN.
Sem emprego e nenhum tostão no bolso, mas com o incentivo de minha família, prestei novo vestibular para o curso de Direito, o que me fez iniciar uma nova história que mudou a vida de todos.
É… O grande Petrúcio tem razão: um “não” abre muito mais portas, pois, hoje, pego emprestado um trecho da sua música para dizer:
“Eu não preciso de você / Já fiz de tudo pra mudar meu endereço / Já revirei a minha vida pelo avesso / Juro por Deus não encontrei você mais não…”.