1941 foi marcado, para os ingleses, como um ano de grande prova de coragem, força interior e altruísmo.
A segunda guerra mundial devastava a Europa desde 1939 e a sombra nazista se voltara para a ilha inglesa, lançando contra ela a operação Blitz, tendo, a poderosa Luftwaffe – força aérea alemã – castigado Londres com bombardeios diários, visando minar o moral da nação de Churchill.
Estava irreconhecível a bela capital inglesa de Sheakspeare e Dickens, exibindo, como feridas abertas, prédios destruídos por toda parte, tanto na periferia quanto em Westminster, igualando a desgraça para abastados e desprovidos, que se sustinham na fé, enquanto o rugido dos motores dos bombardeiros assombravam, e o terrível silvo das bombas incendiárias anunciavam suas próximas vítimas.
Assim que a Luftwaffe desocupava o céu da Inglaterra, heróis anônimos se dedicavam ao trabalho de resgatar pessoas e apagar o fogo, oportunidade em que os londrinos contabilizavam suas perdas inestimáveis de vidas e história, fato este que se repetiu, consecutivamente, por 57 longos dias, além de vários outros eventuais durante a guerra.
No entanto, o povo inglês, apesar de abatido, não se rendeu. Ao contrário: mobilizou esforços, construiu alianças e liderou a reação poderosa que levou a derrocada da ganância de Hitler e libertou a Europa da tirania.
De tempos em tempos, uma determinada pessoa, família, nação ou toda a humanidade é testada em sua moral e coragem para superar obstáculos, sejam estes oriundos de eventos fortuitos, catástrofes naturais, guerras ou pandemias, como ocorre com o coronavírus atualmente.
São nestes momentos de crise que surgem os verdadeiros heróis, tais quais os pilotos da RAF – Força Aérea Real, que, mesmo em menor número, decolavam em meio aos bombardeios para ganhar tempo, enquanto os ingleses atendiam ao chamado das sirenes e se protegiam nos abrigos; os músicos do Titanic, que optaram por continuar a tocar seus instrumentos, diante de morte certa, durante o naufrágio, buscando tranquilizar as pessoas desesperadas; os abnegados profissionais de saúde que, diante de uma doença desconhecida, lutam contra todas as adversidades, inclusive o grave risco de contaminação e morte, para trazer conforto e assistência àqueles que padecem.
Em sentido oposto, os momentos de dor e sofrimento também são terreno fértil para aproveitadores, espertalhões e gananciosos. Estes dão vazão ao que há de pior no ser humano, alimentando o egoísmo, mesquinheza e covardia. Pensando primeiro em si, antes da coletividade, estes seres medíocres se enfronham em negociatas de desvios de recursos públicos que salvariam vidas, escondem oxigênio para cobrar mais, furam filas da vacinação contra a covid e vendem atendimentos que deveriam ser gratuitos, no afã de tirar proveito a todo custo de sua vilania sem se importar com os outros, com questões éticas, morais ou legais.
A covardia perpetrada por estes homens, que retira do próximo a chance de se vacinar ou de se tratar, deve reverberar na sociedade como estigma indigno, sendo seus nomes divulgados ostensivamente para que a vergonha os persiga até o dia em que tenham que prestar contas a Deus.
Enquanto isso, no panteão dos heróis conhecidos e anônimos, seus nomes, rostos e exemplos têm e terão, sempre, um lugar especial nos corações humanos, onde o reconhecimento e a gratidão são um sol fulgente que jamais se põe.