Aconteceu em um dos quartéis do Exército Brasileiro, no 13° Batalhão de Infantaria Blindado, em Ponta Grossa, Paraná.
Um ex-combatente, já na casa dos 90 anos, resolveu fazer uma última visita a sua antiga corporação, de onde saiu, em 1944, para engrossar as fileiras dos cerca de 25 mil homens e mulheres que lutaram no palco de guerra europeu, no fim da Segunda Grande Guerra.
Ao chegar àquela unidade militar e se identificar como membro da força expedicionária, o oficial de dia o recebeu e solicitou que aguardasse no átrio do prédio de comando, tendo ordenado a um dos soldados da guarda para que chamasse o comandante da banda de música, mobilizando-a para que recebesse o ex-combatente com honras militares.
Em poucos minutos, o segundo tenente comandante da banda marcial irrompeu o átrio em marcha, seguido por militares que portavam seus instrumentos musicais, executando o hino da Força Expedicionária Brasileira, a Canção do Expedicionário, composta por Spartaco Rosso, com letra de Guilherme de Almeida.
Surpreso e emocionado, o velho soldado recepcionou e saudou a tropa com olhos marejados, solfejando o célebre hino com sua voz embargada, extenuada pelo tempo, ao repetir a inesquecível letra:
“Você sabe donde eu venho / venho do morro, do engenho / das selvas, dos cafezais / da boa terra do Coco/ da choupana onde um é pouco/ dois é bom, três é demais / Venho das praias sedosas / Das montanhas alterosas / Dos pampas, do seringal / Das margens crespas dos rios / Dos verdes mares bravios / Da minha terra natal…”.
As lágrimas renitentes corriam pela face vincada do pracinha, emoldurando o momento e atribuindo significado especial à letra que clamava a Deus para que permitisse ao infante voltar a sua pátria antes de morrer, trazendo, consigo, por divisa, o “V” que simboliza a vitória sobre todas as tiranias que assolaram a humanidade naquele tempo.
O oficial do 13° BIB, ao homenagear o soldado da FEB, honrou os milhares de soldados brasileiros que tombaram nos campos de batalha estrangeiros lutando pela liberdade, sendo, esta singela deferência, uma reverência ao sacrifício destes homens e mulheres que colocaram à prova o senso de dever, de honra e de patriotismo.
Na verdade, o Brasil é pródigo de heróis, sejam estes já conhecidos pelos livros de história, sejam aqueles anônimos que povoam o cotidiano, fazendo diferença na vida de tantos quantos consigam tocar, tais quais os corajosos profissionais de saúde, os da segurança pública, da limpeza, do jornalismo, dentre tantos outros que arriscaram as suas próprias vidas nesta pandemia em prol do cuidado e zelo do outro.
E como não se falar dos pais e mães deste Brasil que se sacrificam para dar o melhor aos seus filhos? Mesmo enfrentando diversas vicissitudes impostas pela ausência de Estado, continuam com suas missões honrosas de atender, ensinar, salvar e proteger o cidadão, sendo parte imediata e importante deste fio condutor que liga o agora ao passado remoto, dotando de identidade e brio cada um de seus filhos para o enfrentamento dos desafios vindouros.
Homenagens como estas, que exaltam o respeito, não deveriam ser raras. Respeito à memória, às leis, à coletividade, ao trato com a coisa pública deve ser o estribo sobre qual todo brasileiro se erga diariamente para construir o seu próprio futuro.
Afinal, respeitar e honrar os atos e experiências dos contemporâneos e dos antepassados que, com bravura e altruísmo, dedicaram suas vidas para garantir uma sociedade livre e justa, é passo fundamental na formação de um povo cada vez mais sábio, próspero e solidário.