Os poetas já declamaram que a vida é um carrossel; em um momento, no inferno; noutro, vê-se o céu.
De fato, como tudo muda tão rapidamente! Como nossos valores se transformam ao talante das circunstâncias, ora aumentando, ora atenuando nossos medos!
Há quatro meses apenas, parecia que estávamos dentro do filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, engolidos pela enorme máquina de moer gente, consumidos em ganhar dinheiro e comprar o último lançamento do celular, trocar o carro pelo do ano ou “causar” na festa com a nova roupa de marca. Aqui, o medo que pairava era o da rejeição, do fracasso, da humilhação pública.
E aí, veio a pandemia que parou o mundo em poucos dias, fazendo nossos valores mudarem. Agora, o medo do coronavírus fez com que o álcool em gel, máscaras, oxímetros, respiradores e medicamentos passassem a ser objeto de desejo da população mundial.
Conforme já constataram os bons espíritos, descobrimos, com o distanciamento social, que o conforto de um abraço apertado é insubstituível; aprendemos que os nossos contatos virtuais não aquecem o suficiente os nossos corações; que a ausência do sorriso no rosto mascarado é um jardim sem rosas.
Perdemos parentes e amigos para o despreparo das autoridades sanitárias no tratamento da covid-19 e, no último adeus, sequer conseguimos nos despedir como de costume, restando-nos o pranto desalentador por deixá-los para trás… porém, jamais, esquecidos.
Outros tantos, muito mais numerosos do que aqueles que sucumbiram pelo vírus, padecem em seus lares dilacerados pela solidão, pelo desespero e pela depressão, sendo que todas estas mazelas têm sua raiz no medo instintivo que descamba para o pânico.
Neste mundo onde a doença cruenta ainda não possui antígeno, é o medo que impera em todas as plagas, deixando um rastro de destruição por onde passa, pois paralisa as ações do bem, embota a visão do futuro e nos retira o que é mais caro: a esperança.
Divaldo Pereira Franco, orador espírita, há muito ensina que o medo é um dos grandes inimigos da humanidade, pois impede que experimentemos a vida em sua plenitude, a qual somente é possível quando desenvolvemos a confiança.
Sim, a confiança, que é a crença de que algo não falhará, é a vacina do medo. Não importa em que depositemos a confiança; que seja no novo dia que nos propicia novas oportunidades; que seja na vida cíclica e, por isso, tudo passa; que seja na existência de uma razão para todas as coisas. Confiança em Deus, para os crentes; no potencial humano, para os agnósticos; na ciência, para os ateus.
Desenvolvamos a prática da confiança no nosso dia-a-dia, permeando cada atitude, cada palavra ouvida ou proferida, com a esperança de nos manter úteis e saudáveis.
Por outro lado, afastemo-nos de pessoas tóxicas, negativas, dos arautos do pessimismo e das notícias sensacionalistas. Fazer isso nada mais é do que autorresponsabilidade no combate ao medo, que implica em adotarmos todas as cautelas possíveis para prevenir contágios e transmissões do vírus, mas que continuemos a viver com coragem e serenidade.
Lembremo-nos das palavras de Jesus quando disse que “não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo”.
A síntese desse ensinamento filosófico é de que nenhum homem ou mulher merece viver com o medo que amarfanha a experiência humana.
Assim, com autorresponsabilidade, é libertador o pensamento e o grito firme, através de nossas janelas e por cima dos telhados do mundo, de que nós não temos medo.