Os principais efeitos da Covid-19 sobre o mundo são por demais conhecidos, de tão dissecados pela mídia e pelas pessoas. Uma de suas facetas atinge o Jornalismo.
Para além dos debates travados na própria imprensa e nas redes sociais (estas com cada vez mais críticas), recebo relatos de amigos e familiares sobre a cobertura jornalística dos fatos envolvendo o novo coronavírus. Muitos consideram que há excessos no noticiário e são comuns os que dizem não suportar mais tantas notícias ruins e histórias negativas sobre a vida das pessoas.
Não há como dar certa razão a essas percepções. Há mesmo exageros e até cargas dramáticas por vezes dispensáveis em parte da produção jornalística. Aqui, esta constatação traz uma outra má notícia: defeitos nos debates e nas reportagens dos jornalistas não são exclusividade da cobertura sobre esta calamidade que se abate sobre a saúde da população mundial. Eles estão presentes no Jornalismo desde sempre. E assim vai continuar. Seja no Brasil, nos EUA, no Japão e em todos os lugares onde a imprensa tenha plena liberdade de exercício.
Não houve “contágio” da Covid-19 pela imprensa. A cobertura jornalítica não está fazendo nem mais, nem menos do que sempre faz. Com questões e posturas a serem corrigidas? Sim! Com aperfeiçoamentos que ainda precisa aplicar em sua atividade? Sem dúvida. Daí à condenação sumária do trabalho jornalístico, como muitos pregam no universo vasto e acolhedor (por caber de tudo) da internet, vai uma distância muito longa. O amplo espaço dado por todos os veículos é condizente com o que o tema exige.
O Jornalismo livre, apesar de todas as suas falhas, é parte fundamental da sociedade e do seu bom funcionamento. Rui Barbosa já conceituava: “A imprensa é a vista da Nação”. E complementava: “Por ela, é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam”. Difícil achar outra definição melhor que a dada pelo grande pensador brasileiro.
Sou um profissional da área, mas não faço uma defesa corporativista do ofício, nem dos colegas de profissão. Longe disso. Como jornalista, tenho ciência de que a atividade a que me dedico ainda peca por escassez de autocrítica e precisa sanar as deformidades, intencionais ou não, que ainda exibe. Por outro lado, vejo essas questões como inerentes às falhas humanas. Como problema, enfim, menos (bem menos) da atividade em si que dos que a operam.
Há meios para se regular a dosagem das notícias sobre a Covid-19, em quantidade e qualidade. O próprio público tem responsabilidade direta nisto. Pode oferecer críticas diretas aos veículos (acreditem, eles ouvem) ou a órgãos representativos deles. As próprias redes sociais ajudam nessa questão. O público pode também, sempre, mudar de canal quando lhe convier, largar o jornal que não o agrada num canto da casa ou mesmo “se desligar”, optando por fugir do noticiário, como muitos já estão fazendo. Cada um usa o método que julgar mais adequado.
Inapropriado é desconhecer a importância da imprensa e o papel que ela desempenha, inclusive agora, nestes tempos de pandemia. E ainda não conheço forma mais indicada para este fim que a informação produzida com profissionalismo, apuro e seriedade. Todos elementos existentes no bom jornalismo. Fingir que uma dura situação não existe não é uma opção. Noticiada ou não, a realidade sempre se impõe.
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