No fim da década de 1970, o paulista Jair Vicco aportou em Natal, juntamente com sua família, imbuído da missão de abrir uma das primeiras agências do Unibanco na capital potiguar.
Seu Jair, que foi nosso vizinho durante vários anos, era natural de Mogi de Cruzes/SP, e nos relatou que o cargo de gerente bancário das agências do Nordeste, especialmente das de Natal, era concorridíssimo pelos seus pares, pois sabiam que aqui se teria uma qualidade de vida melhor, com segurança e tranquilidade.
De fato, por muito tempo, a crença de um RN seguro atraiu imigrantes de várias nacionalidades e naturalidades, os quais elegeram as terras de Poti como sua morada definitiva, criando raízes e ajudando a desenvolver a economia e a cultura regionais.
Entretanto, esta realidade mudou radicalmente nestas 4 décadas. Em pleno novembro de 2021, notícias de execuções sumárias, golpes pelo celular, sequestros relâmpagos, latrocínios, dentre outras, aterrorizam-nos cotidianamente, dando a impressão de que estamos a mercê de criminosos, que atacam suas vítimas à luz do dia, independentemente de lugar ou condição sócio-econômica.
As estatísticas macabras não deixam dúvidas de que a violência atingiu, em nosso Estado, um novo paroxismo, conforme se verifica no Atlas da Violência de 2021, estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Neste referido estudo, o Ipea contabilizou a quantidade de mortes violentas em todos os Estados brasileiros e a dividiu por 100 mil habitantes, encontrando uma taxa que permitiu criar o mapa da violência, ilustrando, desde os menos violentos, com o rosa claro, até os mais violentos, com o vermelho escuro, de acordo com a foto que encabeça este artigo.
Em 2019, último ano pesquisado pelo Ipea, o Rio Grande do Norte figurou entre os cinco Estados mais violentos da Federação, contando com a taxa de 38,4 mortes por 100 mil habitantes, valor bem acima da média nacional, que foi de 21,7 mortes por 100 mil habitantes, perdendo somente para Sergipe, Roraima, Acre, Amapá e Pará.
E tal posição não é uma eventualidade. Quando o assunto é violência, o nosso pequenino Estado tem ocupado os primeiros lugares há anos. Em 2017, foi o campeão com a taxa de 62,8 mortes por 100 mil habitantes, e em 2018, a quarta colocação, com a taxa de 52,5 mortes por 100 mil habitantes.
Apesar de registrar uma diminuição no número de mortes, o RN continua a se destacar negativamente no cenário nacional. Se considerarmos a evolução dos últimos 10 anos pesquisados (2009 a 2019), o Estado registrou um aumento de 50,5%, sendo o segundo maior percentual de crescimento do país, superado apenas pelo Acre, que teve uma majoração de 66,5% no mesmo período.
Para efeito comparativo, o Ipea identificou que, dentre os 26 Estados e Distrito Federal, 16 registraram queda significativa na quantidade de mortes violentas, influenciando em uma média brasileira de -20,3% de mortes no período de 2009 a 2019, o que demonstra que Acre e Rio Grande do Norte contrariam a tendência nacional.
E São Paulo, um dos maiores Estados e o mais populoso da federação? Quem imaginaria que, nos últimos 10 anos, seria considerado um dos Estados mais seguros do Brasil? Pois é. Em 2019, foram 7,3 mortes por 100 mil habitantes, registrando uma queda de 53,8% de mortes violentas no período de 2009 a 2019, sendo acompanhado pelo Espírito Santo (-54,4%), Distrito Federal (-52,9%) e Paraná (-47,1%).
Por óbvio, a deterioração da Segurança Pública estadual vem de longa data e envolve vários fatores, inclusive a ausência de políticas públicas sérias nas áreas da educação, cultura, esporte e geração de renda, além da insuficiência ou equívoco nos investimentos necessários nas polícias ostensiva e investigativa.
Diante da escalada da violência, parece-nos que o Rio Grande do Norte não se preparou para combater, por exemplo, o crime organizado, o tráfico de drogas, as facções criminosas, o novo cangaço e crimes cibernéticos, mantendo uma estrutura e mentalidade que estacionaram no século passado, explicando o destaque nada invejável no quesito violência.
Por fim, sabemos que a questão é complexa, mas algo deve ser feito urgentemente pelas autoridades constituídas, uma vez que é delas o dever de propiciar segurança pública e paz social para todos nós.
Enquanto isso, resta-nos pedir à padroeira potiguar, Nossa Senhora da Apresentação, para que nos proteja e ilumine em nossos caminhos, trazendo-nos de volta aos nossos lares em segurança, condição que os homens da terra, por ora, não podem oferecer.