Quem se lembra do filme “Pretty Woman”, protagonizado pela jovem e linda Julia Roberts e pelo galã (já bem mais velho, na época) Richard Gere?
Não se condene por não lembrar, pois, ao lado de “Ghost”, estrelado por Patrick Swayze, Demi Moore e Whoopi Goldberg, este filme foi a sensação cinematográfica de 1990, época em que a maioria que usa celular atualmente sequer havia nascido.
A propósito, em 1990, ainda não havia celular em solo brasileiro, até que, em dezembro deste ano, a primeira ligação irrompeu o espaço, a partir do Rio de Janeiro, de um Motorola PT-550, com visor verde (que só cabia sete números), 23 centímetros de altura e quase 400 gramas de peso, aparelho este que, pelo seu formato e tamanho, foi apelidado carinhosamente de “tijolão”.
Para quem tem mais de 35 anos, parece que o primeiro ano da última década do século XX foi ontem. É fácil lembrar dos filmes e, dentre outros fatos, do bicampeonato de Ayrton Senna; da eliminação, pela Argentina (isso mesmo, façam careta), da Seleção Canarinho, na Copa do Mundo de 90; e do primeiro título do Timão, no campeonato brasileiro.
Na política, Fernando Collor tomou posse como primeiro presidente eleito democraticamente, desde o golpe de 1964, caindo em desgraça dois anos depois; Nelson Mandela foi, enfim, libertado do seu longo cárcere de 27 anos; e a Alemanha teve a sua ansiada reunificação, processo iniciado no fim do ano anterior, com a queda do muro de Berlim.
Pessoalmente, 1990 também marcou o início do meu namoro com a minha esposa Raquel, com quem formei uma linda família, que tanto me incentiva nas lidas diárias.
E o que todos estes fatos têm a ver entre si, além do ano de 1990?
Bom, depende muito de como se quer ver a vida. Para mim, todas estas experiências trouxeram uma mensagem de esperança, de amores inesperados que se conectam em busca de um futuro promissor; de que alegrias, conquistas, derrotas e frustrações trabalham conjuntamente em favor do progresso contínuo do indivíduo e da humanidade.
Quatro anos depois da amarga derrota pra seleção argentina, vencemos a Copa dos EUA; surgia o Plano Real, que trouxe estabilidade aos brasileiros; Mandela foi eleito como primeiro presidente negro da África do Sul; e a internet, que estava restrita às universidades, começou a ser comercializada no mercado, passando a ser acessível aos meros mortais.
Os fatos comprovam que, tanto coletivamente quanto individualmente, atravessamos inúmeras crises políticas, econômicas e sociais; passamos por perdas inestimáveis, pelo abandono, por perseguições e falta de oportunidades; afligimo-nos, por incontáveis noites insones, com preocupações e contas nossas de todo dia; mas, no fim, sempre sobrevivemos a tudo e a despeito de todas as nossas vontades e às das alheias.
Ao olharmos em retrospectiva, podemos contemplar uma estrada percorrida que nem sempre foi plana ou reta, mas que, irresistivelmente, trouxe-nos a este ponto, no aqui e agora, quando e onde podemos continuar a escrever a nossa própria história.
1990 ou 2020, 2021: tanto faz. Por mais que as coisas fiquem difíceis, como já o foram, não devemos nos esquecer da esperança; não aquela que fica sentada debaixo da árvore, esperando o fruto cair nas mãos; mas, sim, da esperança nutrida pelo desejo ativo de que se realize o melhor; pelo planejamento inteligente baseado nas luzes e sombras que ocupam o nosso ser e que podem e devem ser utilizadas para moldar o amanhã.
É com essa esperança ativa, de que tudo passa e de que tudo sempre passará, que concluímos o texto desta semana, lembrando e relembrando que, antes de tudo, todos nós somos verdadeiros sobreviventes.