Nesta semana, o Brasil registrou o triste recorde de 1910 vidas perdidas para a covid-19, somando-se a cerca de 263 mil que já deixaram este plano material, desde o início da pandemia.
Tais números, que crescem dia a dia, demonstram uma dura realidade que somente o tempo será capaz de dar a noção exata do quão superlativo é o desafio que cada um de nós enfrentamos agora.
Para se ter ideia, a história registrou o número de 100 mil mortes de brasileiros na Guerra do Paraguai, que foi o maior conflito bélico internacional havido na América do Sul, ocorrida entre os anos de 1864 a 1870, sendo o recorde, até hoje, de baixas do Brasil em guerras.
Comparando-se com a atual crise sanitária, em apenas um ano de pandemia, nós já temos o equivalente a 2,6 vezes de vidas desaparecidas ao longo dos seis anos daquele conflito fratricida, revelando a dimensão da ameaça viral que tem devastado as famílias e modificado completamente o nosso cotidiano.
A grande verdade é que, como disse Mario Sérgio Cortella – sobre o coronavírus, ninguém tem certeza de nada. A OMS, os líderes mundiais e os especialistas estão tão perdidos quanto os cidadãos comuns, guiando-se por estudos e hipóteses que, antes de validação pelos pares, já são superados ante a rápida mutação do vírus.
Enquanto isso, verdadeiros heróis, na linha de frente, combatem o desconhecido, o medo, a falta de estrutura, a frustração e o cansaço para atenderem os que padecem nos leitos de dor, buscando minorar o sofrimento de seus pacientes e consolar os familiares.
Nestes tempos de intensa provação, o desânimo, a animosidade, as queixas sem solução, a indiferença e o egocentrismo somente potencializam o caos e adensam a atmosfera terrestre, propiciando a proliferação do vírus e, consequentemente, o aumento de óbitos.
Religiosos e cientistas parecem concordar que esta guerra deve ser travada nos planos material e espiritual, onde o distanciamento social, a vacina, a utilização do álcool e da máscara são tão importantes quanto o fortalecimento da fé, o cultivo da esperança e a elevação do ânimo.
No momento em que o planeta passa por profunda transformação, foi impingida à humanidade a importante lição de que a melhor maneira de pensar em nós mesmos é zelar pelo próximo, não sendo outro o significado, senão o ensinamento cristão sobre o segundo mandamento do amor, que também é caridade, e a caridade é a fé em ação, pois, como lembrou Kardec, a fé sem obras é morta.
São João, em seu evangelho, escreveu: “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé…”, o que demonstra que a fé é a arma imprescindível que liberta da apatia os indiferentes, que tranquiliza os aflitos, que auxilia na cura dos enfermos, que acalenta os que choram, que orienta os que se perderam na ilusão do mundo.
É para as lides do cotidiano que a fé nos foi facultada. Emmanuel, no livro Renúncia, psicografado por Chico Xavier, atestou que as claridades divinas da fé não nos foram dadas para os dias ensolarados, mas para nos servir de abrigo sólido e fonte fecunda durante as tempestades.
Para aqueles que não têm crenças metafísicas, há a esperança; esperança na vida com propósito, na ciência que evolui dia a dia, nas vacinas que se validam cada vez mais e nos números positivos. Nos próximos dias, atingiremos o patamar de 10 milhões de curados da covid e 8 milhões de vacinados no Brasil, deixando-se entrever a luz no fim desse tenebroso túnel, apesar do elevado número de mortes.
Sim, oremos pelos que nos deixaram e reguemos a sua memória com a doce lágrima da saudade, mas os honremos com a fé e esperança em dias melhores; que possamos os orgulhar ao nos transformar em símbolos de resistência contra o negativismo, a depressão, a maledicência e a indiferença.
Por fim, que tenhamos a coragem de fazer nascer, em nossos corações, o futuro radioso que começa o fulgurar por entre as brumas densas da tristeza e da incerteza, sentimentos estes que tentaram minar nosso ânimo na noite mais escura da humanidade.