Um dia após o fechamento das urnas, a conclusão da apuração pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou as projeções que davam como certo o aumento da bancada de partidos de centro-direita no Congresso que vai tomar posse no ano que vem.
O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, terá a maior bancada na Câmara dos Deputados, subindo de 76 para 99 parlamentares. A legenda também será a maior bancada no Senado, com 14 senadores.
Na Câmara, depois do PL vem a federação formada por PT, PV e PCdoB, aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 80 deputados. A bancada do PT subiu de 54 para 68. O número total de 80 chega com os seis do PCdoB e os seis do PV.
Em seguida, as maiores bancadas no ano que vem na Câmara serão a do União Brasil, com 59 deputados; a do PP, com 47; e a do MDB, com 42.
Esse cenário de polarização entre os partidos de Lula e de Bolsonaro repete 2018, quando o PT elegeu 54 deputados e o PSL, então partido de Bolsonaro, 52.
Congresso conservador
Cientistas políticos apontam que o próximo Congresso será mais conservador e de direita que o atual, mas eles são cautelosos quando falam do apoio de deputados e senadores ao futuro governo.
Para o analista Antônio Augusto de Queiroz, o comportamento do Congresso está diretamente ligado a quem será o próximo presidente da República. Se Jair Bolsonaro for reeleito, ele prevê uma ênfase nas pautas de costume e em projetos que aumentam penas para crimes.
“Essa nova composição é uma composição mais centro-direita que a atual. Agora, o presidente da República tem uma influência sobre o comportamento do Congresso muito grande. Então, por exemplo, se for o presidente Bolsonaro, o Congresso vai se direcionar muito para a direita”, avaliou.
Para o especialista, o atual presidente, caso vença o 2º turno das eleições, terá a oportunidade de fazer as reformas de costumes que ele não conseguiu fazer no primeiro mandato. “Se Bolsonaro for reeleito, ele tem uma base muito apropriada para isso. Houve um crescimento significativo de evangélicos e da bancada de segurança”, disse.
Para Antônio Augusto Queiroz, o PL ter a maior bancada não significa necessariamente oposição automática a Luiz Inácio da Silva, caso o candidato do PT seja eleito. Segundo Queiroz, pouco mais de 30% dos deputados do PL podem ser considerados bolsonaristas-raiz, o que permite uma margem de manobra para o governo caso o petista seja eleito.
Oposição indefinida
O cientista político Leonardo Barreto vai na mesma linha. Ele afirma que, hoje, é cedo para apontar que partidos farão oposição sistemática a Lula.
“A gente vai ter um Congresso mais conservador, mais de direita, mais liberalizante. Isso é um impeditivo, é um sinal de que, caso o ex-presidente Lula seja eleito, terá um Congresso ingovernável? Não.”, declarou. “Tanto é que a gente não pode dizer que nenhum desses partidos que chegaram serão oposição automática ao ex-presidente Lula.”
A cientista política Silvana Krause apontou outro fator de cautela na análise do comportamento do futuro Congresso: a cláusula de barreira, que reduziu o número de partidos na Câmara. De acordo com a estudiosa, legendas médias e pequenas tendem a se fundir, o que vai diminuir a quantidade de agremiações, processo que já começou com a criação de federações, em que os partidos se unem e, na prática, atuam como se fossem um só por um período de quatro anos.
“Esta eleição tende a mostrar uma fragmentação menor. Tivemos 30 partidos no pleito de 2018. Ao que tudo indica, vamos ter agora, com as federações, 19 partidos representados – e 23, considerando cada partido, independentemente das federações. Então é uma mudança, e a gente tem de ter muito cuidado para ver o que vai acontecer”, comentou Silvana.
Partidos tradicionais diminuíram de tamanho na Câmara. O PSDB caiu de 22 para 13 deputados. O PSB caiu de 24 para 14. E o PTB, de 10 para apenas 1.
Senado Federal
No Senado, partidos aliados de Jair Bolsonaro ficaram com a maioria das cadeiras em disputa. O PL, legenda do presidente, elegeu 8 das 27 vagas. Outros partidos da base governista, como PSC, PP, Republicanos, elegeram seis. O PT, partido do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, elegeu quatro. E o PSB, legenda do candidato a vice de Lula, Geraldo Alckmin, apenas um.
Com isso, o PL vai ocupar 14 cadeiras no Senado, ou seja, assim como na Câmara, o partido do atual presidente da República terá a maior bancada da Casa.
Para Graziella Guiotti Testa, o resultado foi uma demonstração de força do bolsonarismo. “Para o Senado, a gente tem visto que o apoio do Bolsonaro deu muitos frutos. A gente tem aí Hamilton Mourão, pelo RS, e Damares Alves, pelo DF. Esse apoio bolsonarista deu muitos frutos no Senado.”
Apesar de ter obtido apenas 4 das 27 cadeiras em disputa no Senado, a bancada do PT aumentou de 7 para 9 senadores.
Entre os senadores eleitos estão os atuais deputados Efraim Filho (União-PB), Alan Rick (União-AC), Professora Dorinha (União-TO), Tereza Cristina (PP-MS), Laercio Oliveira (PP-SE) e Hiran Gonçalves (PP-RR).
Fonte: Agência Câmara de Notícias