2022 será o ano das eleições gerais, oportunidade em que escolheremos, dentre os candidatos homologados pela Justiça Eleitoral, o presidente da República, senadores, governadores, deputados federais e estaduais.
Com a proximidade do pleito, e diante de tantos escândalos de corrupção e desacertos no rumo do país de ontem e de hoje, é comum que alguns de nós nos indaguemos sobre a necessidade da democracia em nossas vidas e se vale a pena o seu elevado custo.
Bom. Antes de respondermos, é importante sabermos que a democracia surgiu nas àgoras gregas, por volta do século VIII a.c., onde os pensadores forjaram a idéia de um regime político que lhes permitisse a participação efetiva do cidadão nas decisões do Estado.
Com o amadurecimento da humanidade, o regime democrático se aprimorou e se espraiou pelo mundo, passando a ser identificado, nas palavras de Abraham Lincoln, como o “governo do povo, para o povo e pelo povo”.
A democracia brasileira é a representativa, ou seja, a vontade popular é exercida através de seus representantes eleitos pelo voto secreto e direto, os quais desempenharão as funções de cada cargo por um tempo previamente determinado.
Ocorre que a maior força do regime democrático também é a sua maior fraqueza. Os eleitores, que detém o poder de escolher seus representantes, têm sido alvo do assédio e abuso de gente que, em nome dos seus interesses mesquinhos, perpetra atos ilícitos em busca de viciar os resultados do pleito, explicando o porquê do sentimento de Wiston Churchill quando disse que a democracia “é o pior dos regimes; com exceção de todos os outros”.
De fato, há três regimes, incluindo o democrático. Os outros dois são o autoritarismo, cuja constituição é manipulada e há suspensão das garantias individuais e políticas, como funcionou nas ditaduras latino-americanas; e o totalitarismo, onde o poder se concentra na figura de um comandante supremo, não havendo nenhuma instituição política legitimada pelo povo, tal qual se viu no fascismo italiano, no nazismo alemão e no estalinismo soviético.
Assim, apesar dos pesares, a democracia vale o seu custo e suas dores, uma vez que está ligada intrinsecamente à liberdade e segurança individuais e coletivas, seguindo um fluxo poderoso da evolução humana, cuja direção é apontada pelos anseios e decisões da maioria ou de seus representantes, resguardando-se os direitos das minorias.
Na verdade, o nosso regime democrático vem se aperfeiçoando ao longo do tempo, protegendo, cada vez mais, a soberania popular ao buscar instrumentos, tais quais as normas e ações eleitorais, que garantam que a voz coletiva chegue de forma cristalina, longe das interferências diversas e abusos do poder político, econômico ou dos meios de comunicação.
Pensando sobre o progresso da democracia, para muitos estudiosos, não há nitidez maior da vontade coletiva do que aquela exercida diretamente pelo cidadão, sem o intermédio de representantes. É a chamada democracia direta, onde o povo possui o direito de participar, ele próprio, das tomadas de decisões do Estado.
A ideia da democracia direta foi abandonada com o crescimento vertiginoso das comunidades, tornando inviável a consulta sistemática dos assuntos de Estado a todos os cidadãos, como acontecia nas pequenas sociedades da Grécia antiga.
O que, antes, era impossível, a tecnologia tornou possível, fazendo despontar uma nova versão da democracia idealizada pelos gregos. Utilizando o conceito de Zygmunt Bauman, suge a democracia líquida: uma espécie de democracia mista que une aspectos da direta e da representativa, e exercida através de plataformas online, com autenticação digital blockchain para assegurar a legitimidade.
Neste modelo, o cidadão tem a possibilidade de participar diretamente das coisas do Estado, ou delegar para um especialista, tudo de forma digital, acessível e segura, garantindo o engajamento de grande parte da população nas decisões políticas do país.
Caso vingue, a democracia líquida poderá ser, em um futuro próximo, o meio pelo qual decidiremos, pelo celular e no conforto dos nossos lares, quais os projetos, obras e leis importantes para o desenvolvimento da cidade, Estado e país.
Dessa forma, atuando diretamente nas decisões políticas de nossa localidade, nós poderemos nos transformar na mente, coração e mãos que seguram as rédeas do nosso próprio destino, deixando para trás um tempo em que nossas vozes não eram tão ouvidas.