Sabemos que a situação está difícil. Milhões de pessoas, neste exato momento, estão batendo nas portas de diversas instituições pedindo oportunidade de trabalho e sustento de suas famílias, tendo, grande parte delas, encontrado somente portas fechadas.
Da mesma forma, empreendedores de vários segmentos, debilitados economicamente por mais de um ano de pandemia, buscam alternativas para continuarem com suas portas abertas na atual situação, uma das mais adversas já vividas por qualquer um, nos últimos tempos.
Nestes momentos de tantas portas fechadas, algumas histórias têm o poder de acender, dentro de nós, a chama da esperança de que, apesar de todas as dificuldades, sempre haverá um caminho pelo qual poderemos trilhar a nossa própria história.
E uma dessas histórias é a de um menino especial, filho de uma dona de casa e de um vendedor, que chegou ao mundo pelas portas de San Francisco, Califórnia, em 1932, portador da paralisia cerebral que o impusera, ao longo de sua vida, limitações nos seus movimentos e na fala, restringindo sobremaneira as portas que iria bater.
Depois do falecimento de seu pai, o jovem Bill Porter e sua mãe foram morar na efervescente Portland, Oregon, onde havia mais oportunidades de emprego, uma vez que ele, apesar de ter direito, recusava-se a receber o auxílio salário do governo por sua deficiência.
Bill sonhava em ser vendedor, igual a seu pai, o que o motivou a sair cedo de casa e procurar emprego no comércio da região, mas as portas permaneciam fechadas, pois, sequer conseguia uma entrevista e, quando conseguia, era dispensado pelo seu entrevistador, antes mesmo de responder seu nome completo, diante da constatação da dificuldade de articular palavras.
Inúmeras vezes, Bill Porter chegou em casa chorando, frustrado com as portas fechadas e devastado pelo preconceito e incompreensão das pessoas, que insistiam em deixá-lo do lado de fora do mundo das oportunidades e da independência financeira.
Nestes dias, sua mãe segurava a sua mão, enxugava as suas lágrimas e repetia duas palavras ensinadas a ele desde muito cedo: paciência e persistência. Porter repetia estes dois valores como um verdadeiro mantra, jantava e ia dormir para, no dia seguinte, sair novamente em busca do seu objetivo.
Até que um dia, em uma entrevista na Watkins Inc., depois de muita insistência junto ao entrevistador, uma porta se abriu e Porter conseguiu o emprego de vendedor porque se propôs a trabalhar na pior rota que havia: a que nenhum outro vendedor queria trabalhar.
Apesar da relutância da Companhia, em virtude de suas limitações e pelo desgaste que a venda de porta em porta causa, Porter iniciou sua tarefa com alegria, passando a cobrir, diariamente, os 16 quilômetros da sua rota, pensando sempre nas palavras ensinadas pela sua mãe: paciência e persistência.
Como era previsível, o preconceito com a aparência, o jeito de falar e o andar desengonçado de Bill causaram estranheza e rejeições das pessoas, mas, aos poucos, foram se acostumando com o novo vendedor, até que, dias depois de iniciado seu trabalho, outra porta se abriu e ele fechou a sua primeira venda para uma jovem senhora alcoólatra e reclusa, Gladys Sullivan.
Bill Porter, pelas suas dificuldades físicas, conectava-se com as deficiências de ordem moral, sentimental, material… dos outros, fazendo com que, não somente abrissem as portas de suas casas, mas também escancarassem as do coração, sendo, sua visita diária, um fio invisível que conectava a todos da região, conquistando amizades e apoios especiais, como a de Shelly Brady.
O “improvável” vendedor, que trabalhou por mais de 40 anos, foi tão bem sucedido que, em 1989, recebeu o prêmio de melhor do ano e, em 1995, capturou os corações da nação americana, quando um jornal do Oregon escreveu uma série de reportagens sobre ele, exemplificando-o como símbolo popular de determinação e entusiasmo.
Sua história comovente foi retratada, em 2002, no filme “Door to Door” (De porta em porta), estrelado por William H. Macy, Kathy Baker e Kyra Sedgwick, que foi produzido pela rede TNT. A repercussão do título foi tão impactante que ganhou o prêmio Peabody e foi indicado para 12 prêmios Emmy, vencendo em 6 categorias, incluindo o de melhor telefilme e melhor ator protagonista, para William H. Macy.
Porter faleceu em Gresham, Oregon, no dia 3 de dezembro de 2013, mas deixou, com sua luta para ser aceito e superar as dificuldades pessoais, uma lição para todos nós, que também temos as nossas próprias portas a bater: com paciência e persistência, alcançaremos todos os nossos sonhos.