A guerra do Vietnã foi um conflito travado pelas Coréias do Norte e do Sul, entre as décadas de 1950 e 1970, ficando conhecida como “guerra por procuração” devido a participação das superpotências da época, em apoio às coirmãs capitalista e socialista.
O uso de armas químicas, napalm e o massacre de mais de 2 milhões de civis deram o tom da brutalidade deste conflito, tendo sido considerado, depois das guerras mundiais, o maior e mais sangrento do Século XX.
Em um dos inúmeros contatos entre as forças inimigas, segundo relato americano de 1963, ocorreu um caso inusitado.
Conta-se que, em determinada missão, vietcongs resistiam a progressão das tropas americanas, entre Hue e Hoi An, tendo, entre eles, um campo de plantação de arroz.
Durante a intensa troca de tiros, os americanos notaram que as rajadas do temível AK-47 Vietcong diminuíram, fazendo-os procurar a causa do inesperado cessar fogo. Perceberam que, de um dos flancos, surgiam alguns monges que iniciavam a travessia, justamente, pelo meio do campo.
Os monges, ainda de acordo com os relatórios militares, pareciam alheios à guerra que eclodia ao seu redor. Caminhavam tranquilamente, olhos voltados para o caminho, entoando os seus mantras enquanto deslizavam, entre os dedos, as contas sagradas da japamala.
Ambos os lados daquela refrega, entreolhando-se surpresos, ensarilharam suas armas e passaram a assistir o desfile dos religiosos até que o último monge sumiu na floresta, do outro lado do campo. A sensação de paz irradiada era tão intensa que as tropas, simplesmente, retiraram-se para seus acampamentos sem disparar mais um único tiro.
Naquele dia, no meio de uma guerra infernal, a postura dos monges mudou a história daqueles homens, contagiando-os com a paz que sequer lembravam existir.
Hoje, apesar de vivermos em um tempo sem guerras como a vietnamita, muitos persistem em cultivar embates no seu dia-a-dia, sejam presenciais ou virtuais, contra os outros ou, como lembra Nietzsche, atacando-se a si próprio quando se é belicoso.
É certo que a sede de conflito é pressuposto de uma sociedade adoecida, cada vez mais competitiva e individualista, que fomenta frustrações, depressões e ódios gratuitos, que têm vitimado pessoas mais frágeis e desprotegidas, como crianças e adolescentes.
Entretanto, a paz é fundamental para o bem-estar coletivo e convência harmônica entre as pessoas, instituições ou nações, permitindo a cooperação mútua para o progresso de todos. Einstein dizia que “a paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos”, pois não há como se desenvolver todas as potencialidades humanas no império da hostilidade.
A tarefa não é fácil. Entre nós, infelizmente, ainda há pessoas que possuem amor ao litígio e insistem em nos arrastar para a tempestade das suas vidas, adensando as batalhas que já travamos no campo pessoal e profissional.
Por isso, é preciso que tenhamos a consciência de que a paz deve ser perseguida como valor cotidiano e bem indissociável da felicidade, sendo, por isso mesmo, responsabilidade de todos e dever de cada um.
Assim, a nossa atitude se torna essencial para mudarmos o mundo que nos cerca, disseminado a paz através de ações, palavras ou silêncios com o fim de contagiarmos os outros e transformarmos o futuro, pois, como ensina o Dalai Lama, “se quiser um futuro de paz, faça com que o próximo segundo seja de paz”.
Em favor daqueles que escolhem a paz, o Mestre do amor nos incentiva: “tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”.