A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda (MF) apresentou nesta quarta-feira (19/7) o 3º Boletim Macrofiscal de 2023, com destaque para a revisão da estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 de 1,9% para 2,5%. Em coletiva de imprensa no Ministério da Fazenda, em Brasília, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, destacou que o boletim revela um conjunto de fatores positivos no cenário atual, como a nítida tendência de queda da inflação e resiliência dos indicadores do mercado de trabalho. Por outro lado, apontou que a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em patamar elevado impede maior crescimento do país (ao inibir investimentos de empresas e maior consumo das famílias, por exemplo), mantendo o mercado doméstico de crédito sob condições adversas.
“Não há nenhuma razão técnica para a taxa de juros brasileira estar no nível que está hoje. Todos os indicadores mostram que há espaço, já há algum tempo, para redução”, disse Guilherme Mello. Desde agosto de 2022, a Selic está em 13,75% ao ano. A Selic é determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
O titular da SPE apontou que a taxa de juros alta está extremamente descolada do resto do mundo e tem impactado não só o mercado de crédito, mas também as variáveis fiscais e econômicas, gerando impactos sociais. Mello, entretanto, disse acreditar em queda da Selic dentro de pouco tempo. “Acredito que está para se iniciar a queda da taxa de juros. Terá uma importância significativa do ponto de vista fiscal, do ponto de vista econômico e do ponto de vista social, no mercado de trabalho. É importante que o Brasil se aproxime o quanto antes de um padrão minimamente comparável ao de seus pares internacionais”, afirmou, ressaltando que a política monetária não é “apartada da política econômica”.
A inflação em queda, ressaltou Mello, abre espaço para a redução do juro básico da economia. Conforme aponta o 3º Boletim Macrofiscal de 2023, as previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caíram para 4,85% em 2023 (ante 5,58%, no boletim anterior); e para 3,30% em 2024 (ante 3,63%). Houve também redução das estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Com a melhora nas expectativas de inflação, as taxas de juros futuras têm caído de maneira significativa, afetando inclusive as projeções de mercado para a taxa Selic ao final deste e do próximo ano, aponta a SPE. Há bons indicadores também no mercado de trabalho, com a redução na taxa de desemprego, de 8,4% em março para 8,1% em maio.
Confira a íntegra do Boletim Macrofiscal de julho de 2023
Confira a apresentação sobre o Boletim Macrofiscal de julho de 2023
As projeções de crescimento melhoraram para todos os setores, informa o Boletim. Para o setor agropecuário, a projeção de crescimento no ano foi revisada de 11,0% para 13,2% (ante queda de 1,7% em 2022). Para a indústria, o crescimento esperado avançou de 0,5% para 0,8% (ante 1,6% no ano passado). Já a projeção para serviços passou de 1,3% para 1,7% (contra avanço de 4,2% em 2022).
A melhora nas perspectivas de crescimento está relacionada ao resultado do PIB do primeiro trimestre, que mostrou forte avanço do setor agropecuário. Subsetores em serviços, como transporte e comércio, também foram beneficiados com a expansão agrícola do primeiro trimestre, com reflexo no PIB esperado para todo o ano. Para o segundo trimestre, há estimativa de recuo da atividade agropecuária, leve recuperação da indústria e expansão menos pronunciada em serviços, com perspectiva, de forma geral, de desaceleração da atividade. Para 2024, espera-se melhora na composição do PIB, com participação mais equilibrada da indústria e de serviços no lado da oferta e aumento da absorção doméstica no lado da demanda.
A SPE ressaltou que no Prisma Fiscal de julho (também divulgado nesta quarta-feira), as projeções mostram queda nas expectativas para o déficit primário do Governo Central em 2023 de janeiro a junho. Na coleta de junho, a projeção para o déficit primário em 2023 foi de R$ 101,75 bilhões, ante R$ 125,99 bilhões em janeiro. A melhora nas expectativas sugere que as instituições de mercado estão considerando as medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda em suas projeções fiscais, aponta o novo boletim macrofiscal. Além do secretário Guilherme Mello, participaram da coletiva a subsecretária de Política Macroeconômica, Raquel Nadal, e a subsecretária de Política Fiscal, Débora Freire, ambas da equipe da SPE.