Obervemos uma criança fazendo qualquer coisa e digamos, de forma imperativa: NÃO.
Este “não”, embora embrulhado de cuidados dos nossos pais ou responsáveis, é a expressão maior do sistema sociológico em que estamos inseridos, repletos de limites e padrões, desde cedo, para moldar nossos pensamentos e ações, pois, para a sociedade, o importante é que sejamos como tijolos na parede, tendo inspirado, inclusive, a música da banda Pink Floyd, lançada em 1979, “another brick in the wall”:
Esta crítica musical se referiu aos limites, que se iniciam como proteção física (e deveriam parar por aí), e se irradiam para as outras áreas das nossas vidas, afetando diretamente nossa autoestima, nossas escolhas, relacionamentos e formação como cidadãos, uma vez que, aos poucos, vemo-nos medrosos e engolfados com afirmações tais quais “não pode”, “não faça”, “não consegue”, dentre outras.
A grande tragédia disso tudo é que passamos a acreditar, verdadeiramente, que não podemos desejar um lugar ao sol, que não somos capazes de enfrentar ou superar os desafios, as adversidades e obstáculos que se apresentam em nossa jornada, vitimando, primeiramente, nossa própria esperança.
Ocorre que a história tem demonstrado justamente o contrário. Casos de pessoas, que enfrentaram dificuldades praticamente inexpugnáveis, revelam que a superação é condução inata ao ser humano, lançando-o a um nível muito além daquele que o senso comum conceberia.
Um dos exemplos mais emblemáticos é o do físico inglês Stephen Hawking. Flagelado pela Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e confinado em uma cadeira de rodas, os seus médicos lhe deram mais 2 ou 3 anos de vida, mas Hawking acabou vivendo 76, dos quais 40 anos dedicados a uma das mais profícuas produções intelectuais da Era Contemporânea.
Outro exemplo é do notável compositor alemão, Ludwig van Beethoven, que nunca teve estudos formais aprofundados, mas seu talento nato para a música o fez compor aos 11 anos, o que propiciou uma carreira meteórica na Viena do Século XVIII. Aos 26 anos, iniciou um processo de surdez, agravando o alcoolismo, cirrose e outros problemas de saúde que o castigaram durante os próximos 30 anos de vida. Mesmo assim, Beethoven foi reconhecido como um dos músicos mais famosos e influentes da sua época, tendo revolucionado o alcance da música em termos de som e volume, além de ter composto e regido, completamente surdo, a magnífica Nona Sinfonia.
Frida Kahlo, aos 6 anos de idade, contraiu uma poliomielite que a deixou sequelada. Aos 18 anos, sofreu um grave acidente, necessitando de 35 cirurgias e vários meses de recuperação, causando-lhe dores terríveis que a levaram à dependência de morfina. Foi presa à cama que Frida iniciou sua carreira de pintora, fazendo fama internacional e a levando a expor, em New York e Paris, ao lado de artistas como Pablo Picasso e Marcel Duchamp.
O caso da escritora e ativista norte-americana, Hellen Adams Keller, nascida em 1880, também é desafiador até para os padrões atuais. Embora tenha perdido a visão e a audição antes de completar 2 anos de idade, Hellen aprendeu três idiomas, escreveu seu primeiro livro aos 20 anos e foi a primeira pessoa com deficiência visual a se formar em uma universidade. Com isso, passou a atuar e a dar conferências em mais de 40 países, sempre na defesa das pessoas com deficiência e outras causas, como o pacifismo e o sufragismo.
Nomes menos conhecidos e mais atuais comprovam que não há limites para a vontade humana, como o da inspiradora Jessica Cox, que nasceu, em 1983, no Arizona, sem os membros superiores, por causa de uma doença rara. Mesmo sem braços, Jéssica se qualificou e recebeu o brevê americano de piloto de aeronave leve, sendo a primeira piloto licenciada do mundo com essa condição, além de ser a primeira faixa-preta sem braços da American Taekwondo.
Histórias assim, que motivam e inspiram a humanidade, multiplicam-se todos os dias e nos ensinam que os limites, mormente estes que se transmutam em medos e inseguranças, são uma ilusão, pois possuímos, intrinsecamente, um enorme potencial de superação quando o objetivo é conquistar os nossos sonhos.
Sobre isso, o Presidente norte-americano por 4 mandatos, Franklin Roosevelt, que contraiu a poliomielite já adulto e ficou com suas pernas paralisadas, dizia que “os únicos limites das nossas realizações de amanhã são as nossas dúvidas e hesitações de hoje”.
Assim, depois de vislumbrarmos algumas dessas incríveis biografias, podemos concluir que, seja lá o que estejamos passando ou que iremos passar, a vida não possui ruas sem saída; haverá sempre um caminho pelo qual nos possibilitará gozar a vida em plenitude.